corredor, para o sofá e a almofada cinza vazia. — Esperando que
as coisas voltem ao normal.
O rosto de Sam fica sério, como costumava ficar quando ele
começava a cantar antes de uma grande jogada.
— Eu também — ele diz com uma voz firme. — É por isso
que não podemos esquecê-la. Precisamos ficar juntos porque
somos os únicos que podemos manter a memória dela viva. Era
o que a Kim iria querer.
O que a Kim queria. Eu costumava achar que sabia o que ela
queria melhor que qualquer um. Mas não. Sam sabia.
Eu penso em todas as conversas que aconteceram pelas
minhas costas. Em como ele sabia o que ela realmente sentia. O
que ela realmente queria.
— Há quanto tempo você sabia? — Eu pergunto a ele. —
Sobre Berkeley?
Ele hesita, mas em vez de responder, só baixa a cabeça.
— Desculpa. Eu devia ter te contado.
— É — eu digo, simplesmente. Mas eu penso no que Kim
disse no carro, quando falou em terminar. Em ela ir para
Berkeley. Você teria deixado?
Ele também pensava assim?
Ele me observa por um longo tempo e, quando percebe que
não vou explodir, ele continua.
— Eu sei que aquela foi uma noite ruim, mas ela te amava.
Você precisa se lembrar disso.
Eu deixo as palavras assentarem, e elas fazem minha cabeça
flutuar mais do que o álcool. O “amava” no passado ainda é tão
dolorido quanto naquela noite. E é coisa demais para lidar agora.
Sam não insiste no assunto. Nós passamos para um território
mais seguro, falamos dos planos dele para este semestre e os
jogos de futebol da UCLA, embora eu não tenha tido forças para
acompanhar nada da pré-temporada.
E então, quando ele vai embora, eu prometo não ser mais um
babaca e mandar mensagens mais vezes.
Mas alguns minutos depois que a porta se fecha atrás dele,
eu a abro novamente e saio em meio ao vento frio do fim de
verão. Levo um segundo para perceber que estou indo para o
car0l
(CAR0L)
#1