De qualquer forma, como se pode averiguar, as observa-
ções de Couto Reis confirmam a estreita vinculação de grande
parte das lagoas da planície e do tabuleiro às bacias do rio Pa-
raíba do Sul e da lagoa Feia, colhendo de surpresa condições
ambientais hoje não mais existentes.
Plantas e animais. Manguezais e vegetação de restin-
ga parece não gozarem de boa reputação nas representações
ocidentais de natureza. E aqui, como em várias outras passa-
gens anteriores deste escrito, tentando analisar as representa-
ções construídas sobre os ecossistemas de restinga do norte
fluminense, não se pode deixar de construir uma representação
acerca das alheias representações. O mapa anônimo, de acordo
com Lamego datado de 1747, traz uma peculiaridade: além de
retratar os acidentes físicos, mostra também a vegetação. As-
sim é que a margem esquerda do rio Paraíba do Sul e o vale do
rio Muriaé, seu afluente, aparecem recobertos de florestas. No
sertão de Cacimbas, junto à costa, abundam as densas matas
estacionais que se ligavam às matas de restinga(15, 16).
Couto Reis exalta a beleza e a utilidade das plantas en-
contradas nos domínios da serra, dos tabuleiros e da planície
aluvial. No primeiro, chama a atenção para as árvores fornece-
doras de madeira de lei e de lenha. No segundo, observa a prodi-
galidade da vegetação arbórea no sertão de Cacimbas. Observa
que, na planície aluvial, principalmente no trecho compreendido
entre a barra do rio Preto e de Valetas, onde foram edificados in-
contáveis engenhos, a vegetação é menos abundante de lenha
e madeira, mas fértil em herbáceas.
E assim encerram-se talvez as informações do século
XVIII sobre as restingas do norte fluminense, visto que a relação
de animais feita por Couto Reis não os insere em seus contex-
tos ecológicos.
As restingas no século XIX
Terras e águas. Os cronistas da casa, via de regra com-
piladores, e os viajantes estrangeiros, no mais das vezes na-
turalistas, vão aportar novos conhecimentos sobre as restin-
gas da região norte fluminense, a despeito de esta formação
geológica e geomorfológica, com seus ecossistemas vegetais
nativos continuar a ser olhada com certo desprezo. O primei-
ro registro de vulto cabe ao naturalista alemão Maximiliano de
Wied-Neuwied, aproveitando-se, como outros, da abertura das
fronteiras com a transferência da sede do império português
para o Brasil. Com uma bem preparada expedição, ele percorreu,
entre 1815 e 1817, o trajeto que se estende do Rio de Janeiro a
Salvador, afastando-se poucas vezes da costa. Munido com o
mapa de Arrowsmith, o príncipe alemão traça um itinerário que
passa pela foz do rio Macaé, pelas lagoas da restinga sul e por
Barra do Furado (das quais nomeiam-se apenas as do Paulista
e de Ubatuba), adentrando na vila de São Salvador (Campos) e
subindo o rio Paraíba do Sul até São Fidélis, de onde desce a
Campos novamente e segue para São João da Barra. Desta vila,
marcha para a Bahia atravessando o delta do rio Paraíba do Sul,
alcança a praia de Manguinhos e entra na densa mata estacio-
nal até o rio Itabapoana, limite das capitanias do Rio de Janeiro
e do Espírito Santo.
Seu relato de viagem, lançado em 1820, mistura as ob-
servações de primeira mão com as leituras feitas posteriormen-
te na Europa. É, portanto, uma fonte primária contaminada, mas
nem por isto de menor importância. Entre Macaé e Barra do Fu-
rado, há apontamentos em que a restinga aparece como região