Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1

pertencerem à mesma espécie ou, no máximo, a duas. Reparou
nas lagoas que se formam em depressões de restinga, separa-
das por ondulações cobertas de vegetação, bem como informou
da existência da pitanga (nomeada por ele Eugenia peduncula-
ta, atualmente Eugenia uniflora) e do caju, já identificado por ele
com seu nome científico atual, Anacardium occidentale L. Num
dos charcos, descobriram os naturalistas da expedição o exem-
plar de uma árvore aparentada à Bonnetia palustris; um belo es-
pécime de Evolvulus; uma pequena Cassia de flores amarelas;
uma trepadeira asclepiadea com flores branco-róseas; uma nova
Andromeda, palmeiras abundantes em palmito, tucum, um exem-
plar de Stachytarpheta crassifolia, Cactus globoso, semelhante
ao mammillaris, considerada por Sellow uma espécie nova; a
Turnera ulmifolia, na areia; duas Nymphaea, a indica e a erosa,
nos brejos; uma alta Alisma.


Quanto à fauna, registrou, na restinga sul, o pirilampo, os
bacuraus, o milhano preto e branco, grande quantidade de uru-
bus (segundo Olivério Pinto, urubu de cabeça vermelha, esclare-
cimento feito pelo próprio Maximiliano em sua obra maior, Bei-
träge zur Naturgeschichte von Brasilien), bandos de papagaios
rabilongos (maracanãs e periquitos), tucanos, gavião-pomba
(Falco plumbeus para Maximiliano, Ictinia plumbea atualmen-
te), uma legião de papa-ostras (Haematopus palliatus), caburé
(Glaucidium brasilianum); sabiá-da-praia (Mimus gilvus ante-
lius); o Gecko incanescens; a lagartixa de coleira preta (desco-
berta de Maximiliano, Tropidurus torquatus torquatus, figuran-
do um desenho dele em suas Abbildungen zur Naturgeschichte
Brasilien’s); maçaricos (Vanellus caynnensis); garças, gaivotas,
quero-quero, andorinhas-do-mar e marrecas; um exército de bi-
cho-de-pé (Pulex penetrans para Maximiliano, atualmente Tunga
penetrans) que assolou toda e expedição; o ibis de face pelada
ou carão, Phimosus infuscatus nudrifrons), o gavião do man-
gue; o colhereiro (Ajaia ajaja), tapicurus, patos e biguás e uma
anhinga (Anhinga anhinga, também chamado de biguá-tinga, ca-
rará, miuá), guarás (atualmente quase desaparecidos da costa
meridional brasileira), batuíras e baiagus. “Era verdadeiramente
espantosa a multidão de marrecos e aves palustres que aí en-
contramos”, exclamou extasiado o príncipe naturalista. Além de
Barra do Furado, Maximiliano Wied-Neuwied depara batuíras,
irerês e marreca-viúva. Daí em diante, a expedição atravessa a
lagoa Feia, saindo da restinga em direção à planície aluvial.


No pequeno trecho da restinga norte, o naturalista alemão
encontrou pitangueiras, cajueiros e goiabeiras, uma nova espécie
de Sophora (a littoralis), com flores amarelas e cacto hexagonal.
Logo adiante, a expedição mergulhou na imensa floresta estacio-
nal em direção ao Espírito Santo(22).


Saint-Hilaire, outro naturalista europeu, dedicado à botâ-
nica, assinalou, no trecho entre Macaé e Barra do Furado:


... grande planície que se prolonga entre
o mar e os morros cobertos de matas. Aí,
no meio de um areal branco e quase puro,
encontrei uma vegetação semelhante, ao
menos pelo aspecto, à da restinga de
Cabo Frio; todavia, perto de Cabiúnas os
arbustos são em geral mais espaçados e
menos vigorosos, não formam os tufos
e à época de minha viagem havia muito
menor número de flores. Aqui, como em
Cabo Frio, as Mirtáceas mostram-se em
maior número que as plantas de outras
famílias. Nos lugares secos os espaços
entre os arbustos são inteiramente nus;
mas sempre que o solo se torna um pou-
co úmido aparece um relvado fino e ra-
quítico, no meio do qual há abundância
de uma Xyris e três ou quatro espécies
de pequenos Eriocaulon de flores solitá-
rias, gênero de plantas que procura ter-
renos análogos aos que em nosso país
são preferidos por Exacum filiforme e por
Linum radiola.

Mais adiante, nas cercanias do Sítio do Paulista, ele pi-
sou região deserta e arenosa, com dunas que se estendiam en-
tre o caminho e o mar. Para o interior, havia uma sucessão de
lagoas de água salobra. Em algumas delas, topou o naturalista
com uma Ciperácea bastante semelhante ao Scirpus lacustris,
uma grande Sagitária, um nenúfar branco e uma Utriculária.
Nas margens, crescia o Alisma ranunculoides e, nos lugares
pantanosos, a Drosera intermedia. Inevitável encontrar também
a até hoje abundante Typha domingensis, popularmente conhe-
cida por taboa, planta de grande valência ecológica. Fazendo
coro a outros naturalistas, a vegetação psamófila costeira não
apresentou, para Saint-Hilaire, maiores atrativos.

Nada mais monótono que a vegetação desta
região. Os relvados e as margens das lagunas
não oferecem senão uma espécie de gramínea
e tufos floridos de uma pequena Hedyotis Na
duna que se estende à beira-mar apenas se
veem pés raquíticos da Sophora littoralis (fei-
jão da praia), e, nos lugares em que há mais
variedade aparecem unicamente pitangueiras
(Eugenia michelii), algumas Cactáceas espi-
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