ABRIL 2021 | REVISTAVOX.COM 107
uma homenagem continuar traba-
lhando a terra nos dias de hoje, em que
a agricultura é muito desvalorizada”,
explica Tatiana.
Mas a história de volta às origens
foi gradativa. Com a carreira estabele-
cida na capital paulista, ela optou por
sair do trabalho e fazer um curso de es-
truturas com bambu para construção
sustentável. Em seguida iniciou uma
transição alimentar para o vegetaria-
nismo e suas prioridades começaram
a mudar. Então, em 2017, conheceu as
áreas de permacultura, na região de
Londrina (PR); produção rural, em
Lucélia; e de agricultura assintrópica,
em Brasília (DF).
No mesmo ano, já estabelecida na
propriedade, Tati e mais cinco agricul-
tores se reuniram em um projeto para
vender cestas de alimentos na feira. Era
a Cesta Agroecológica de Alimentos
Lucélia. Nesse período incentivou a
mãe a plantar frutas para terem di-
versidade na oferta. Mas, por conta da
logística e outros fatores, a agricultora
voltou a ficar sozinha no projeto, po-
rém não desistiu. Readequou o nome
para Cesta Lucélia.
Dos 10 hectares de terra, a área
escolhida por Tatiana para abrigar a
nova fase do projeto contabilizou cerca
de dois. E a partir do pomar da mãe,
com o uso do sistema agroflorestal,
gradativamente a plantação avançou
para a área de pasto, tendo cuidado de
suspender o uso de agrotóxicos desde
o princípio.Ao longo dos anos uma variedade
de mais de 100 alimentos já ganhou as
mesas da região, conforme a sazonali-
dade, por meio da entrega de cestas ou
das parcerias que fez questão de fechar
em cidades como Adamantina e Pano-
rama. “Consumir alimento local não é
só uma questão de economia, mas de
saúde e de percepção do lugar onde se
vive”, complementa.
Todo esse trabalho rendeu logo
no início de 2020, a certificação de
orgânicos, concedida pela Associação
Biodinâmica (ABD). E devido a esse
selo, ela conta que o uso de tudo por
ali precisa ser controlado para provar
para a certificadora que atende a legis-
lação vigente para esse tipo de alimen-
to. Para isso precisa de cadernos de
campo para registrar todos os detalhes
das plantações.
Em abril e maio do ano passado,
com quase dois anos e meio de ações,
e por conta do isolamento gerado pela
pandemia de Coronavírus, Tatiana
conta que preferiu pausar a entrega
de cestas de alimentos por um tempo
e hoje atende os clientes conforme a
produção da semana.
Aproveitou para repensar seu ne-
gócio e resgatar a ideia de um trabalho
em conjunto com outros agricultores
da região, a exemplo do que já havia
feito, mas agora com cinco hectares
destinados ao projeto.
Enquanto isso, por volta de setem-
bro passado, a agricultora deu start
no sonhado mercadinho, dentro da
propriedade, com alimentos próprios e
de agricultores em processo de tran-
sição. Logo na entrada, o visitante se
depara com um acesso margeado por
altas árvores.
O final de 2020 ainda foi marcado
pelas primeiras etapas da construção
de um viveiro de mudas e Tati lem-
bra que antes do isolamento social, o
espaço foi palco de cursos, vivências
e mutirões, sempre voltados à relação
saudável e consciente com a terra.
Atualmente ela explica que sua
plantação tem foco em atender ao
Programa de Aquisição de Alimentos
junto ao Governo do Estado, que apoia
os agricultores. E a ideia é realizar em
2021 um curso de agricultura orgânica
na propriedade.“Consumir
alimento local não
é só uma questão
de economia,
mas de saúde,
de percepção do
lugar onde vive”
Tatiana Jô