108 REVISTAVOX.COM | ABRIL 2021
RANCHO Y-ÎARA
COLETIVIDADE ANCESTRAL
Em Panorama, na propriedade
rural às margens do Rio Paraná, que
um dia pertenceu a seus pais, a publici-
tária Luciana Teruel Aires, 39 anos, viu
brotar um desejo de transformação: o
resgate da convivência harmoniosa com
a natureza, onde um grupo de pessoas
viveria em comunidade e trabalharia
para produzir o próprio alimento, livre
de agrotóxicos.
Depois de viagens pelo país e do
contato com produtores agroecológicos/
agroflorestais que cultivavam semen-
tes crioulas (sem alteração genética ou
utilização de produtos químicos) ela viu
a oportunidade de recuperação daquela
terra degradada, empobrecida e contou
com o auxílio das amigas Naélia Forato,
38, e Ana Zélia Britos dos Santos, 58.
“O primeiro ponto foi reflorestar,
alimentar o solo e a partir daí, usar as se-
mentes crioulas que eu havia adquirido
em comunidades quilombolas, ribeiri-
nhas pelo Brasil”, relembra Luciana.
Então, oficialmente, os alqueires
ribeirinhos receberam um novo nome:
Rancho Y-Îara, escolhido por sua origem
tupi-guarani e por representar a cultura
popular brasileira. Além disso, faz alu-
são à potência feminina.
Em 2018, o Y-Îara até então com-
posto apenas por mulheres recebeu
seus primeiros pares, que trouxeram
conhecimentos de agroecologia e pro-
dução orgânica, adquiridos dentro e
fora do país, adicionando assim matu-
ridade aos trabalhos de SAF (Sistema
Agroflorestal).
“Quando começamos, tínhamos
uma vontade de não seguir padrão, fize-
mos uma agricultura que chamávamos
de sensitiva, que era observar o que as
plantas, a terra, o que aquele lugar pedia
e agir de forma mais passional. A gente
trabalhava com mais círculos, espirais”,
pontua ela.
A movimentação na terra começa
por volta das sete da manhã, para evitar
o sol forte da região. É quando os atuais
moradores do projeto, Melissa Ale-xandre, 28, Paulo Henrique Frata, 23,
Danielle Carla dos Santos, 24, e Luciana
se revezam nas tarefas.
Dali são colhidos frutas, e raízes,
além de ervas medicinais para chás e
incensos. Já as hortaliças que comercia-
lizam vêm de um trabalho com produ-
toras parceiras de um assentamento da
região.
O carro-chefe deste coletivo é a
Kombucha produzida ali, uma bebida
ancestral e estimulante energética, que