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Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
criminoso de “cuidados paliativos”, violando princípios
científicos e éticos basilares, abandonando pacientes à
própria sorte.
Por essas e outras irregularidades, dois donos, o
diretor-executivo e oito médicos foram indiciados no
relatório final da CPI por crimes como falsidade
ideológica, perigo para a vida ou a saúde de outrem,
omissão de notificação e crime contra a humanidade.
Serão investigados pelas autoridades policiais e por
órgãos de controle, como a Agência Nacional de Saúde
(ANS), o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(Idec), os Conselhos Regionais de Medicina e os
Ministérios Públicos estaduais respectivos, que têm a
obrigação de aprofundar as apurações e cobrar
responsabilidades. Farta documentação obtida pela CPI
também está à disposição desses órgãos e envolvem a
HapVida, várias Unimed e outras operadoras que
também teriam cometido irregularidades.
A infeliz associação de empresas mercantilistas à
perspectiva negacionista do governo Bolsonaro resultou
na morte de milhares de brasileiros. E isso foi feito, é
preciso lembrar, sob o escudo do Conselho Federal de
Medicina (CFM), que transformou a imprescindível
autonomia médica em uma abjeta autorização para
ações sem bases científicas e respaldo ético.
Para que isso jamais se repita, será preciso, além de
fortalecer o SUS, mudar a lei para corresponsabilizar as
operadoras pelos tratamentos oferecidos aos pacientes,
inclusive nas redes verticalizadas. Deve-se, ainda,
atribuir à ANS a responsabilidade de estabelecer
critérios e fiscalizar as redes verticalizadas. O cuidado à
saúde não pode ser deixado sob a batuta das mãos
invisíveis e dos interesses escusos do mercado.
Quem ainda não entendeu a lógica perversa do
mercado dos planos de saúde deve assistir ao
documentário Sicko: SOS Saúde (2006), do cineasta
norte-americano Michael Moore. As ocorrências da
Prevent Senior vão muito além dos graves problemas
identificados. Eles são, de fato, consequências diretas
da saúde tratada como mercadoria, no contexto de um
governo neoliberal, sem a mínima empatia, e que opera
para desregulamentar qualquer regra de civilidade e de
proteção do interesse coletivo. Na saúde, isso se traduz
em dor, sofrimento e mortes.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas