40 caminhos do crescimento
Banco Central do Brasil
Revista Meio & Mensagem/Nacional - Noticias
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
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40 caminhos do crescimento
Remar contra a maré
Economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato
Barbosa, ao contrário de concorrentes, que ainda em
outubro soltaram projeções de cenário econômico já
com recessão em 2022, ainda confia num percentual
pequeno de crescimento do PIB, no próximo ano. Nesta
entrevista, explica o porquê, assim como faz uma
análise contundente de que não é a ajuda à parcela
mais vulnerável da população o fator responsável por
destruir as contas públicas. Já para 2023, avalia que
tudo dependerá da política econômica de quem for o
próximo presidente da República, disputa que, destaca,
já está acontecendo em 2021. Neste contexto, cabe aos
empresários brasileiros, que vivem há décadas entre
uma crise e outra, se preparar para navegar mais um
ano novo em meio a um mar de volatilidade.
Por ROSEANI ROCHA r rocha@ grupo mm. com .br
Fotos: ARTHUR NOBRE
Meio & Mensagem - Como resumiria,
com base em suas análises e no que já vem
acontecendo no País, o cenário macro do Brasil em
2022?
Fernando Honorato Barbosa - O que
aconteceu recentemente foi um ataque frontal ao regime
fiscal brasileiro. A mudança do indexador do teto de
gastos é oportunista para o governo de modo geral para
2022 e coloca em risco a credibilidade das contas
públicas no longo prazo. Ainda que o teto formalmente
ainda esteja vigente, ao se mudar a Constituição
facilmente, porque parece que é o que vai acontecer,
isso enfraquece a credibilidade fiscal. E tem uma falácia
de que o teto se opõe ao atendimento aos mais
vulneráveis. Caso reformas tivessem sido feitas nos
últimos anos, décadas, teríamos flexibilidade
orçamentária para atendê-los e respeitar as regras
fiscais. Mesmo com a aprovação da PEC Emergencial e
as regras do teto, seria possível um arranjo. Até então,
achava que a economia podia ter crescimento,
pequeno, mas decente, 1,5%, 1,6%. Essa incerteza nas
contas públicas fez a curva de juros subir muito. Há
estimativas de Selic, no mercado, entre 11% e 12%.
Isso influirá no PIB de 2022. Temos um PIB de 1,6%
para o ano que vem, mas pode ficar perto de 1%; 0,6%,
0,7% é a base que prevejo. Não tenho números
negativos por dois motivos ainda: o setor agrícola com
desempenho muito forte em 2022 e a renda dos
brasileiros deve crescer uns 2%, 2,5%, porque teremos
reajustes de salários agora, dissídios, e a inflação
cederá. É provável que fique entre 4,5% e 5% e
permitirá algum ganho real dos salários. Um PIB de 1%
ainda cabe, mas o que aconteceu tira capacidade de a
economia crescer no curto prazo. No longo, o tempo
dirá se as regras fiscais serão novamente rompidas,
qual será o desfecho da política econômica depois das
eleições. Por ora, temos PIB na vizinhança de 1%,
inflação de 4,5% ou 5% e uma taxa de juros que deve
chegar, no pico do aperto monetário, num teto de 11%,
mas ainda pode terminar abaixo de 10%, em torno de
9,5%.