Paixão Pelo Vinho - PT - Edição 83 (2021-Trimestral)

(Maropa) #1

48 • Paixão Pelo vinho • edição 83


MÉrito

O Alentejo é muito grande, produz muitos
vinhos e tem muitos produtores. Alguns
deles, grandes, famosos e a produzir vinho
há muitos anos. Mas no que diz respeito
ao Alentejo vitivinícola “moderno”, todos
concordarão que há um antes e um depois
do Esporão.
A Herdade do Esporão, situada em Re-
guengos de Monsaraz, tem 1830 hectares,
dos quais 450 são de vinha, 80 de olival
e 600 de montado, o que garante uma
importante biodiversidade. Uma albufei-
ra que ocupa uma área de 120 hectares é
responsável por um espelho de água im-
pactante na propriedade. É uma das mais
antigas herdades do Alentejo, tendo os
seus limites sido estabelecidos em 1267
e mantendo-se praticamente inalterados
desde então. Entre 1457 e 1490 o seu pro-
prietário, D. Álvaro Mendes de Vasconce-
los, regedor de Évora e cavaleiro da casa
do Duque de Bragança, mandou edificar a
Torre do Esporão, símbolo de senhorio e
poder militar e no início do séc. XVI, João
Mendes de Vasconcelos mandou erguer a
ermida de Nossa Senhora dos Remédios,
que se tornou o centro de um culto po-


pular que se mantém ainda hoje. Em 1973,
foi adquirida aos condes de Alcáçovas por
José Roquette e Joaquim Bandeira e assim
começa uma nova fase da longa vida da
herdade. O vinho torna-se o protagonista.
A intenção de José Roquette e Joaquim
Bandeira era produzir de forma profissio-
nal e numa escala significativa, vinhos de
qualidade no Alentejo. Nessa altura ainda a
região era o “celeiro de Portugal” e o vinho
uma cultura secundária, pelo que a aposta
não era isenta de riscos. Um relatório na
altura elaborado pelos serviços de agri-
cultura do Estado, que ficou para memó-
ria, considerou o projeto megalómano e
destinado a uma falência rápida, tendo em
conta a sua dimensão, ambição e ousadia.
Ainda em 1973 as vinhas começam a ser
plantadas, mas pouco tempo depois, com
o 25 de abril de 1974, à semelhança do que
aconteceu um pouco por todo o Alente-
jo, a Herdade do Esporão é ocupada pela
Reforma Agrária e tudo se complicou. As
terras só começaram a ser devolvidas em
1978, tendo então os trabalhos recomeça-
do. Em 1985 é produzido o primeiro vinho,
Esporão Reserva, a referência ainda hoje

mais representativa da casa, que é coloca-
do no mercado em 1987. Nesse ano é pro-
duzido o primeiro Garrafeira, entretanto
chamado Private Selection. Nascia assim a
marca Esporão e nada seria como antes.

CreSCimentO e COnSOlidaÇÃO
A partir daí o caminho foi-se fazendo, de-
grau a degrau, desafio a desafio, objetivo a
objetivo e o Esporão foi cimentando uma
marca de produtor de vinhos de qualidade.
Ainda em 1987 é concluída a adega, conce-
bida para funcionar por gravidade e assim
reduzir ao mínimo o consumo de energia
e a necessidade de utilização de bombas,
bem como a famosa cave subterrânea, em
forma de hangar, a 12 metros de profundi-
dade, que oferece ótimas condições para
o envelhecimento dos vinhos. Lembro-me
bem da primeira vez que a visitei: após um
percurso descendente por uma sucessão
de galerias em betão, desembocar naquele
espaço amplo e imponente, onde, na meia
luz existente, se alinhavam centenas de
barricas, foi uma sensação de espanto. Hoje
são mais de duas mil, de várias dimensões,
que periodicamente vão sendo substituídas.
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