edição 83 • Paixão Pelo vinho • 49
Em 1992 junta-se ao projeto David Ba-
verstock, que terá sido determinante. Este
enólogo, já experiente, oriundo da Austrália,
onde estudou e trabalhou, trouxe consigo
práticas e abordagens enológicas diferen-
tes das que por cá se praticavam. Mais do
que isso, trazia consigo o pragmatismo e a
filosofia da escola australiana, sabendo que
com as condições certas se podia produ-
zir em quantidade e qualidade, e sabia que,
com as condições certas, seria capaz de o
fazer. Essas condições surgiram no Espo-
rão. Conta David que quando José Roquet-
te lhe telefonou a propor-lhe que integras-
se o projeto Esporão, foi visitar a Herdade,
tendo ficado impressionado com a enorme
área de vinha e com a adega, superior a
tudo o que tinha visto em Portugal até en-
tão. A sua decisão de mudar-se do Douro,
onde trabalhava, para o Alentejo, foi quase
imediata. David ainda continua no Esporão,
partilhando a responsabilidade de desenhar
e conceber vinhos com Sandra Alves. Ou-
tros enólogos, como Luís Duarte ou Luís
Patrão, que partiram para outras aventuras,
também partilharam a adega com ele, ten-
do beneficiado dessa parceria.
Em 1992, já com David, foi iniciado o con-
ceito Monte Velho: um vinho da maior im-
portância para o Esporão onde tudo cor-
reu bem. A qualidade do vinho, o nome,
a imagem da garrafa e o excelente preço,
que resultou num produto Esporão acessí-
vel a todas as bolsas. O vinho, um alente-
jano genuíno, foi muito bem aceite e dos
30.000 litros iniciais passou para os atuais
4 milhões de litros, constituindo provavel-
mente o maior blockbuster do Alentejo e
do país.
A década de 1990 foi de grande cresci-
mento. Ainda em 1992 José Roquette
torna-se o único acionista do Esporão. Em
1995 é fundada a Qualimpor, empresa de
importação de vinhos e azeites no Brasil,
que permitiu o crescimento da marca nes-
se país; foi também adquirida a Herdade
dos Perdigões, a cerca de 5 quilómetros da
Herdade do Esporão, com de 150 hectares
e um terroir particular que aporta às uvas
uma excecional qualidade e um impor-
tante contributo para os vinhos de topo.
Em 1997, o Esporão entra no mercado dos
azeites e é inaugurado o Enoturismo, o pri-
meiro a ser certificado em Portugal.
O temPO de JOÃO rOQuette
João Roquette, filho de José Roquette,
é o CEO do Esporão desde 2006. Quan-
do inicia funções, já o Esporão era líder
no mercado nacional. Faltava, contudo,
dar o último passo preconizado pelo seu
pai: a internacionalização. João, apesar da
sua formação em gestão de empresas, é
músico. Talvez tenha sido a criatividade e
a liberdade que só a arte permite, as res-
ponsáveis pela mudança de estratégia que
a sua liderança trouxe. Para João, a inter-
nacionalização exigia melhores vinhos e
para ter melhores vinhos seriam neces-
sárias melhores uvas. Era então a altura
certa para intervir nessa área, e avançar
na direção da agricultura orgânica. Ape-
sar das preocupações ambientais terem
sempre estado presentes no Esporão e os
seus vinhos ostentarem o selo de produ-
ção integrada, era a altura para dar o passo
seguinte: a agricultura biológica. Em 2007
o Esporão inicia a transição, com várias
experiências. Um momento feliz em 2014
mostrou que tinham tomado a opção cer-
ta e um ano depois são produzidos os pri-
meiros vinhos biológicos. Como testemu-
Para a nova identidade do Esporão,
além das vinhas, também o conceito
de adega teve que evoluir, tendo sido
construídas novas infraestruturas para
elevar o nível dos vinhos