Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

ERA FIM DE JUNHO DE 2013 QUANDO CHEGUEI ao Paraná e comecei
meu roteiro de três semanas cortando todo o Estado de carro. Quilômetros e
quilômetros de estradas margeadas por plantações que, da janela do avião,
pareciam grama dourada. Nunca tinha visto tanto milho. Aliás, nunca tinha visto
milho a não ser na feira e nas festas juninas. “Estes pés são bem mais baixos do
que os de antigamente”, dizia Valmício Luiz, ex-agricultor de 64 anos, enquanto
o carro ia seguindo. “Quando eu era criança, o milho chegava a quase dois
metros. Agora, ele cresce rápido e logo está dando espiga. Não tem tempo de
subir mais de um metro.”
Seu Valmício nasceu em Tubarão (SC), de onde a família saiu atraída pela
notícia de que o centro-norte do Paraná, atualmente o maior Estado produtor de
milho do Brasil, abrigava as terras mais férteis da região. Quando chegaram à
cidade de Ivaiporã, hoje com pouco mais de 30 mil habitantes, a promessa se
cumpriu. Tirando café e açúcar, eles não precisavam comprar nada.
Plantavam arroz, feijão, verduras, frutas, legumes, milho e trigo, que levavam
ao moinho para fazer farinha. O pão era preparado em casa. Por tradição, quando
alguém matava um porco ou um boi, presenteava os vizinhos com pedaços da
carne. Geladeira, não tinha. Então eles fritavam o porco na própria gordura, que
hidratava e conservava o alimento por meses em latas, comprovando com a
sabedoria popular o que Pasteur estudou dentro do laboratório. A carne do boi
era fatiada, bem salgada e seca no sol. Galinha, só no fim de semana. No dia a
dia, era abobrinha, batata, talo de abóbora, mandioca, batata doce, cará e polenta
feita com fubá triturado entre as pedras. Pergunto se ele sente saudade daqueles
sabores e ele responde que sim, principalmente da galinha. “Frango de granja
não tem nem o gosto nem a consistência do frango caipira, criado solto.” Mas,

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