DESDE QUE O MUNDO É MUNDO, SEU CÉREBRO se prostitui em troca de
calorias. Ele até sabe que salada é mais digna para a saúde, mas se vende por
qualquer porção de gordura e açúcar que apareça. Isso vem de longa data. Como
nossos ancestrais não podiam comprar filés e batatas congeladas no mercado
mais próximo, saíam à caça para garantir o jantar. Só que nem sempre o dia de
trabalho rendia.
O cérebro, que pensa em tudo, criou mecanismos de sobrevivência para livrar
a espécie da extinção em tempos de gazelas magras. Um deles foi estocar
qualquer caloria excedente em forma de gordura. Assim, o corpo poderia
recorrer a essas reservas internas quando o mundo lá fora estivesse muito cruel.
Outro foi aprender a identificar, pelo cheiro e pelo gosto, os alimentos mais
energéticos, que costumam ser adocicados. Já os maiores venenos da natureza
são amargos – nossa aversão a eles é fruto de uma engenhoca neural de
preservação.
Mas como convencer alguém a comer mais do que precisa para acumular
reservas de gordura, quando a fome já foi embora? Nunca menospreze o poder
do cérebro. Ele desenvolveu um circuito chamado centro de recompensa. Toda
vez que você come um alimento bem calórico, estimula essa região a liberar uma
descarga de dopamina, a substância inebriante do prazer. A sensação é tão boa
que dá vontade de repetir sempre, em um processo parecido com o da excitação
sexual. “O funcionamento das áreas ligadas ao raciocínio e ao pensamento
lógico é reduzido, e a atividade nas regiões mais profundas e mais antigas do
cérebro, que são responsáveis pelas emoções e pelos instintos, aumenta”, detalha
o neurologista Leandro Telles.
ruy abreu
(Ruy Abreu)
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