Danielle Steel - As Irmãs PT

(Carla ScalaEjcveS) #1

isso. Apesar do médico ser, por norma, um homem bastante impassível e sereno, estas
quatro mulheres, e em especial a sua paciente, tocaram-no profundamente. Sentiu-se
como um assassino impiedoso quando saiu do quarto e desejou poder fazer mais por ela,
mas não podia. Ninguém podia. Pelo menos, conseguira preservar os globos oculares,
para Annie não ficar desfigurada. Era uma rapariga tão bonita!
Candy viu-o sair do quarto com uma expressão de agonia estampada na cara e voltou a
esgueirar-se para dentro do quarto da irmã. Avistou Sabrina e Tammy de cada lado da
cama e viu Annie a soluçar de forma descontrolada enquanto elas a abraçavam.
— Oh meu Deus... Estou cega... Estou cega... Candy começou a chorar assim que viu
Annie.
— Quero morrer... quero morrer... Nunca mais vou ver nada... a minha vida acabou...
— Não, não acabou, querida — disse-lhe Sabrina baixinho enquanto a abraçava. — Não
acabou. Parece que sim agora, mas não acabou. Sinto muito. Eu sei que é difícil. É horrível.
Mas nós amamos-te e tu estás viva. Não ficaste com sequelas no cérebro, não ficaste
aleijada nem paralisada do pescoço para baixo. Temos de agradecer por muita coisa.
— Não, não temos — gritou-lhe Annie. — Tu não sabes como é. Eu não te vejo Não vejo
nada... não sei onde estou... tudo é cinzento e preto... quero morrer...
Annie soluçou nos braços das irmãs durante horas. Elas faziam turnos para consolá-la, por
fim apareceu uma enfermeira que lhe ministrou um calmante suave. Sabrina acenou com
a cabeça — pareceu-lhe uma excelente ideia. Aquilo era demasiado para Annie. Perder a
mãe e descobrir que estava cega, tudo no espaço de uma semana. Depois de ouvir Annie
chorar durante três horas e meia, Sabrina sentiu-se como se também ela precisasse de um
calmante.
Annie estava a chorar nos braços de Tammy quando lhe deram a injecção. Vinte minutos
depois já estava a dormir e a enfermeira disse que ela iria dormir durante várias horas.
Podiam ir-se embora e voltar mais tarde. As três abandonaram o quarto em pontas dos
pés e não disseram nada até chegarem ao parque de estacionamento. Todas elas estavam
com ar de quem tinha levado uma sova.
Tammy acendeu um cigarro com dedos trémulos e sentou-se numa grande pedra ao lado
do carro do pai.
—Jesus, estou precisada de uma bebida, de um tiro, de heroína, de um martíni... pobre
miúda...
Fora horrível.
— Acho que vou vomitar — anunciou Candy quando se sentou ao lado dela.
Tirou um cigarro dos de Tammy e acendeu-o, enquanto Sabrina procurava as chaves do
carro. Sentia-se tão abalada como as outras.
— Só não vomites para cima de mim — avisou-a Tammy. — Não ia aguentar.
O médico dera a Sabrina, no início daquela semana, o nome de uma psiquiatra,
especializada no trabalho com pessoas invisuais. Depois de tudo o que acabara de
acontecer, Sabrina fazia tenções de lhe telefonar.
Finalmente conseguiu tirar as chaves do carro da sua mala e abriu as portas. As outras
entraram, parecendo que tinham passado por uma guerra. Eram duas horas da tarde e
estiveram com Annie durante quatro horas, três e meia das quais depois de ela ter
recebido a notícia. Annie soluçara sem parar. As três irmãs nem sequer tinham forças para

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