— Sim, tenho.
— Estás a prescindir de muita coisa.
— Eu sei. E nunca mais terei outro emprego de que goste tanto. No entanto, não posso
desapontar a minha família — respondeu Tammy em tom quase trágico.
E, contudo, no fundo do seu coração, Tammy sentia-se limpa, certa e pura. A vida fora um
tormento para si desde que regressara a LA.
— Não há programas de jeito que possas produzir em Nova Iorque.
— Eu também sei disso. Mas mesmo que vá trabalhar numa merda de um programa, isto
é algo que tenho de fazer por eles. Nunca me perdoarei se o não fizer. No fim das contas,
trata-se apenas de um programa. Aquilo que eles estão a enfrentar é a vida real. As
minhas irmãs precisam da minha ajuda e o meu pai também.
— É muito nobre da tua parte, Tammy, mas é um tremendo sacrifício para ti. Pode causar
um fortíssimo impacto negativo em toda a tua carreira.
— E se eu ficar? O que acontece então? Que definição se aplicará a mim como ser
humano? — perguntou-lhe Tammy, ao mesmo tempo que os seus olhos fitavam os dele
de forma penetrante.
Tammy nunca vacilava nas suas resoluções. Ele ficou espantado com a força que ela
transmitia ali sentada do outro lado da sua secretária.
— Quando queres partir? — perguntou-lhe ele, parecendo preocupado.
— O mais depressa que puder. Isso depende de ti. Não vou voltar-te as costas. Mas
gostaria de partir o mais depressa possível.
O produtor não tentou demovê-la, pois viu que seria impossível.
— Se nos deres um prazo até ao final da semana que vem, talvez consiga que um dos
produtores associados te substitua. É provável que a greve se arraste e com isso
ganhamos algum tempo.
No seu negócio, ninguém ficava por perto quando se demitia. Na verdade, quem fazia isso
costumava ser conduzido até à saída pelos seguranças no espaço de alguns minutos. Ele
nunca faria isso com ela. A decisão era inteiramente sua. Tammy estava preparada para
fazer tudo o que ele quisesse, mesmo que a mandasse abandonar as instalações dentro de
uma hora. A sua decisão estava tomada.
— A semana seguinte está óptimo para mim. Lamento muito. Lamento mesmo muito —
disse Tammy, começando a chorar outra vez.
— E eu lamento por ti — disse o produtor com simpatia, levantando-se, dando a volta à
sua secretária e abraçando-a. — Espero que tudo se resolva pelo melhor e que a tua irmã
fique bem.
— Eu também — respondeu Tammy e sorriu por entre as lágrimas. — Obrigada. Obrigada
por seres tão compreensivo comigo e não me expulsares daqui.
— Não poderia fazer isso contigo.
— Eu iria compreender se o fizesses.
Ele voltou a agradecer-lhe e desejou-lhe muitas felicidades quando foi acompanhá-la à
porta do seu gabinete. Concordaram que Tammy sairia na sexta-feira seguinte.
Restavam-lhe nove dias de trabalho, depois a sua carreira em televisão estaria
praticamente acabada. Pelo menos por agora. E talvez Tammy nunca mais conseguisse
arranjar um emprego decente. Já sabia isso quando saiu do gabinete do seu chefe, mas
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1