Costumava trabalhar para uma família japonesa que se mudara da cidade. A agência
garantia que dispunha nos ficheiros de óptimas referências a seu respeito e
recomendavam-na vivamente.
— Como posso falar com ela, se a mulher só fala japonês?
— Ela sabe o que fazer. A família para quem ela trabalhava tinha cinco filhos, todos
rapazes. É muito mais difícil do que limpar e arrumar uma casa para quatro mulheres
adultas e três cães.
— Não estou assim tão certa — comentou Tammy, baseada na experiência que tivera.
No entanto, uma empregada que não falava inglês era melhor do que nada e muito
melhor do que ser ela a fazer todo o trabalho.
— O nome dela é Hiroko Shibata. Gostaria que a mandasse a sua casa para conhecê-la
esta tarde?
— Claro que sim — respondeu Tammy.
De qualquer das formas, não lhe restava mais nada a fazer.
A senhora Shibata foi pontual quando chegou para a entrevista, vestindo um quimono.
Afinal, veio a descobrir-se que não era exacto o facto de ela "não falar nada de inglês",
pois conhecia cerca de dez palavras que repetia com frequência, quer a situação fosse
apropriada quer não. Com efeito, o seu aspecto era asseado e imaculado e deixou os
sapatos à porta, num acto de cortesia, quando entrou em casa. O único pormenor que a
agência não mencionou, mas que provavelmente não estava autorizada a fazê-lo, era a
senhora aparentar cerca de setenta e cinco anos de idade e não ter dentes. Fazia uma
vénia a Tammy sempre que esta lhe dirigia a palavra, o que obrigava Tammy a fazer
também uma vénia. Além disso, não parecia importar-se com os cães, o que já era uma
ralação a menos. Disse por várias vezes "Cão muito girro." Melhor ainda. Enfim, entre a
utilização de linguagem gestual, falar muito alto, que não servia de nada, e apontar para o
relógio, Tammy conseguiu transmitir-lhe a mensagem de que ela deveria voltar na manhã
seguinte para fazer uma experiência. Tammy não fazia a mínima ideia se ela iria aparecer
ou não, mas ficou encantada quando a viu chegar.
A senhora Shibata entrou pela porta da frente, descalçou os sapatos, fez uma vénia de
cortesia a toda a gente, incluindo a Candy vestida com uma tanga e uma T-shirt
transparente, a Annie quando ela saiu apressada para ir para a escola, a Sabrina quando
esta saiu para trabalhar, fez várias vénias aos cães sempre que os via e entrou numa
roda-viva executando o seu trabalho. Para grande satisfação de Tammy, a empregada
ficou até às seis horas e tudo estava impecável quando se foi embora. Os lençóis das
camas foram mudados e estas foram feitas com uma precisão militar, o frigorífico fora
lavado e esfregado, a roupa suja de cada uma estava lavada e arrumada e as toalhas
foram lavadas, engomadas e dobradas. Chegou mesmo a dar comida aos cães. O único
problema foi ter-lhes dado algas a comer, que sobraram do almoço que trouxera para si,
com picles picantes, algas-marinhas e peixe cru, tudo aquilo com um cheiro horrível, e as
algas deixaram os cães doentes, tendo vomitado violentamente. Tammy passou mais
tempo a limpar a porcaria que eles fizeram do que levaria para limpar a casa. Por isso,
quando a senhora Shibata veio trabalhar na manhã seguinte, Tammy fez-lhe entender por
meio de imensos sinais e apontando para as tigelas, para os cães e para as algas, fazendo
caretas e trejeitos dignos de um teatro kabuki, que não deveria voltar a fazer aquilo. A
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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