CAPÍTULO 7
Os médicos disseram-lhes que Annie não iria acordar nessa noite, pois estava fortemente
sedada e era preciso mantê-la assim, para evitar quaisquer movimentos no seu cérebro.
Além disso, não adiantava nada ficarem ali as duas na sala de espera a noite toda. Annie
não corria perigo iminente e as enfermeiras da UCI prometeram que telefonariam caso
surgisse algum problema. Sugeriram que Sabrina e Tammy fossem para casa e
regressassem na manhã seguinte. As duas estavam exaustas quando entraram pela porta
principal de casa. Sabrina ainda lá não fora desde que souberam da notícia e Tammy
estivera no hospital durante muitas horas. Era difícil acreditar que aquele era o mesmo dia
em que haviam saído de casa depois de saberem da morte da mãe e de tentarem saber
notícias de Annie. Parecia que o dia durara mil anos e todos eles péssimos.
— Como está a Annie? — perguntou Candy assim que elas entraram na cozinha.
Esta acabara de acordar e estava sentada à mesa da cozinha, sentindo-se um pouco zonza,
na companhia de Chris. Ficara completamente aniquilada com um único comprimido. O
pai voltara para a cama depois de ter tomado um segundo comprimido, que Chris lhe
dera, de acordo com as instruções de Tammy antes de sair de casa. O pai gostara de
conversar com Chris, ambos haviam chorado por Jane e Chris disse-lhe que lamentava
imenso.
— Ela está bem — respondeu Sabrina. — A cirurgia correu muito bem e disseram-nos para
virmos para casa.
Sabrina e Tammy haviam combinado que não contariam nada sobre a visão de Annie
naquela noite. Eram demasiadas informações para absorverem; seria mais outro duro
golpe e desta vez já tarde, à noite. Concordaram as duas em esperar até ao dia seguinte
para contarem a notícia de que Annie ficaria irremediavelmente cega. Ia ser demasiado
para suportarem, e, acima de tudo, ia ser de mais para Annie. Ela iria precisar do apoio de
todos eles.
— Como estão os olhos dela? — insistiu Candy.
— Ainda não sabemos — respondeu Tammy muito depressa. — Saberemos mais amanhã.
Chris perscrutou o rosto de Tammy e depois olhou para Sabrina. Não gostou da forma
como Tammy falara, nem da expressão nos olhos de Sabrina, mas não lhes perguntou
nada, nem tão-pouco Candy, que se limitou a abanar a cabeça e a beber um pouco de
água da sua garrafa, ao mesmo tempo que os cães corriam pelo chão da cozinha. Chris
dera-lhes de comer e levara-os à rua várias vezes. Não havia muito mais que ele pudesse
fazer, uma vez que tanto Jim como Candy estiveram a dormir a maior parte do tempo.
Ficou apenas sentado em silêncio, a pensar e a brincar com os cães. Estava com receio de
telefonar a Sabrina para não incomodá-la, por isso limitou-se a esperar que ela chegasse
para ter notícias. Em termos oficiais, as notícias pareciam ser óptimas. Pessoalmente,
Chris já não tinha tanta certeza, mas não disse nada. Estava ali para ajudar e não para
sondar nem para atrapalhar.
Chris não fez mais perguntas até ficar a sós com Sabrina no quarto dela com a porta
fechada. Candy ia dormir com Tammy nessa noite. Ambas precisavam de consolo.
— A tua irmã vai mesmo ficar bem? — perguntou ele a Sabrina, com uma expressão
preocupada, e ela fitou-o durante um longo e silencioso momento.