uma delas tocou na irmã, na mão, no braço, no rosto. Annie conseguia senti-las a todas à
sua volta e a presença das irmãs era reconfortante e ao mesmo tempo agoirenta. Era
capaz de pressentir que alguma coisa horrível acontecera. Os seus sentidos estavam mais
aguçados do que nunca e o seu cérebro trabalhava na perfeição, para grande alívio de
todas, muito embora neste caso fizesse com que fosse mais difícil para Annie ignorar o
assunto.
— A mãe não conseguiu sobreviver — respondeu Tammy em voz baixa, uma vez que era a
que estava mais perto. — Aconteceu tudo demasiado depressa e sucedeu muita coisa. A
mãe foi atingida pelos canos de aço. Teve morte imediata.
Annie ofegou. Abriu a boca apavorada, mas não saiu nenhum som. E em seguida começou
a gesticular violentamente com os braços, tentando tocar nelas e agarrou-se com força às
mãos das irmãs. As três começaram a chorar novamente ao olharem para Annie e esta
também. Podiam ver o seu próprio choque e a sua própria dor espelhados na irmã.
Contudo, já tinham tido quatro dias para se acostumarem à ideia. Para Annie tudo era
recente e brutal.
— A mãe morreu? — perguntou Annie num sussurro aterrorizado.
Gostaria de olhar para as irmãs e odiou aquelas ligaduras que a impediam de fazer isso. O
médico disse-lhe que teria de ficar com elas ainda mais alguns dias. Iriam tirá-las uma
semana depois da operação. Contudo, era terrível não poder ver as caras ou os olhos das
irmãs, agora que tinham perdido a mãe. Annie queria tirar as ligaduras, mas arrancá-las ou
rasgá-las não resultou. Já tentara, mas em vão.
— Morreu, sim — respondeu Sabrina àquela pergunta horrível. — Sinto muito, querida.
Sinto tanto que tenhas de aguentar tudo isto.
— Oh meu Deus, que coisa horrível — exclamou Annie ao mesmo tempo que as lágrimas
lhe escorriam dos olhos para as ligaduras.
Annie sentiu os olhos arderem, apesar de estes estarem tapados, o que só piorou tudo.
Sentou-se na cama e chorou durante bastante tempo enquanto as irmãs a abraçavam,
como se fossem três anjos-da-guarda a tomar conta dela. Todavia, o anjo mais doce de
todos partira. Annie não era capaz de entender nem de assimilar o facto, tal como as
irmãs. Era a pior notícia que Annie jamais recebera e o mesmo se aplicava às irmãs,
mesmo passados quatro dias. Nenhuma delas aparentava serenidade face àquela
situação, apesar de se esforçarem para que o pai achasse que sim.
— Como está o pai? — perguntou Annie por fim, preocupada com ele também.
— Nada bem — respondeu Candy, desta vez — mas nós também não estamos grande
coisa. Estou sempre a ir-me abaixo. Sabrina e Tammy encarregaram-se de tudo. Têm sido
óptimas.
Candy pôs a irmã a par de tudo. Annie perdera tantas coisas do que acontecera. Na
verdade, perdera tudo.
— O funeral já foi? — perguntou ela, parecendo chocada.
Na verdade, não quereria ir, mas agora sentia-se algo excluída, mas sabendo que nada
disso era verdade. No entanto, não houve outra escolha. As irmãs não sabiam quando ela
acordaria e não podiam esperar. Devia ter sido muito duro para o pai e até mesmo para
elas. Tiveram de tratar de todas as formalidades dolorosas, mesmo sem a presença de
Annie.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1