— Foi ontem — respondeu Sabrina.
Annie não conseguia acreditar. A mãe morrera. Não era capaz de assimilar devidamente
aquelas palavras ou o seu significado. Também não fora fácil para as irmãs. Ainda estavam
com dificuldade em adaptar-se e o mesmo aconteceria consigo. A mãe era uma presença
demasiado forte e amorosa para que as filhas pudessem entender a sua morte súbita, ou
até mesmo para conseguirem lidar com o que vinha depois, mas até agora tudo tinha sido
bem suportado, acima de tudo pelas irmãs.
— Coitado do pai... coitadas de nós... coitada da mãe — gemia Annie em agonia. — Que
coisa terrível nos foi acontecer.
Era ainda mais terrível, mas isso Annie ainda não sabia. Agora seria coitada dela, ainda
mais coitada do que a mãe. Ela vivera a sua vida, morrera demasiado nova, mas vivera
uma vida plena e feliz até ao fim. Agora era Annie que iria ter de enfrentar desafios
enormes e a sua vida subitamente limitada iria ser muito difícil. Nunca mais poderia ver
um quadro, nem criar um, quando dedicara toda a sua vida à arte. Era Annie que fora
privada da visão, sendo ainda tão jovem. As irmãs estavam com imensa pena dela, tanta
quanta sentiam pela mãe.
Ficaram com Annie durante muito tempo nessa tarde. Não queriam deixá-la sozinha
depois de lhe terem dado a notícia do que sucedera com a mãe. Por vezes falavam sobre
isso, por vezes limitavam-se a ficar sentadas em silêncio de mãos dadas, outras vezes
choravam juntas, ou riam por entre as lágrimas com alguma história que uma delas
recordava e que as outras já haviam esquecido. Sempre tinham sido muito unidas, mas o
facto de perderem a mãe criou um laço ainda mais forte entre elas. Eram quatro raparigas
muito diferentes, com um amor imenso e um profundo respeito umas pelas outras,
sentimentos que lhes foram transmitidos principalmente pela mãe, mas também pelo pai.
Agora agarravam-se a ele e umas às outras, como os símbolos que restavam do seu
mundo destruído.
Eram sete horas da tarde quando elas finalmente abandonaram o hospital. Annie estava
exausta e as irmãs também. Regressaram a casa, falando sobre Annie pelo caminho e, ao
chegarem, foram dar com Chris a conversar com o pai em voz baixa. Contou-lhes que
aparecera lá em casa pelo menos uma dúzia de pessoas para verem como eles estavam e
para prestarem as suas homenagens. Eram momentos estranhos para todos eles. A mãe
deixara um vazio enorme nas suas vidas e na sua comunidade, onde fora muito amada e
admirada durante anos na qualidade de esposa, de mãe, de amiga, de ser humano e de
trabalhadora incansável em muitas obras de beneficência. Fora muito mais para muitas
pessoas do que apenas mãe ou a esposa de Jim.
Tammy sugeriu que mandassem vir comida chinesa ou sushi para que Chris não tivesse de
cozinhar outra vez, mas o pai disse-lhes que, primeiro, havia uma coisa que queria fazer
com elas. Estava com um ar pesaroso e abalado, como acontecia desde sábado, porém
determinado. Pediu-lhes que o acompanhassem até à sala de jantar. Chris sabia o que
estava a acontecer e deixou-se ficar onde estava, não querendo intrometer-se. Aquele era
um assunto entre eles, um momento privado da família. Ficara alarmado quando Jim lhe
contara o que ia fazer, assim que voltaram do banco nessa tarde. Parecia-lhe demasiado
cedo, mas o homem mais velho referiu que se passariam muitos meses até que todas as
suas filhas voltassem a estar juntas em casa outra vez. E Jim sabia que era isso que a
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1