Danielle Steel - As Irmãs PT

gritasse, mas ela não fez isso. Ao invés mostrou-se intrigada e algo assustada, mas o
médico prevenira-a.
— O que vê, Annie? — perguntou-lhe ele. — Vê alguma luz?
— Um pouco, como se fosse uma luz cinzenta muito pálida — respondeu Annie com
exactidão — uma espécie de cinzento-claro com preto à volta dos rebordos. Não vejo mais
nada.
O médico acenou com a cabeça e as lágrimas começaram a rolar primeiro em silêncio
pelas faces de Tammy e depois pelas de Sabrina. Candy saiu do quarto em bicos de pés.
Não conseguia suportar aquilo. Era demasiado doloroso de se ver. Annie escutou o som da
porta a ser fechada com todo o cuidado, mas não perguntou quem era. Estava
concentrada naquilo que via e no que não via.
— Não vejo nada, apenas aquela luz cinzento-clara no meio do meu campo de visão.
Então, o médico pôs a mão em frente da cara de Annie, com os dedos afastados.
— E agora, o que vê?
— Nada. O que é que o senhor está a fazer?
— Estou a pôr a minha mão em frente dos seus olhos.
O médico fez sinal a Sabrina para que voltasse a abrir as persianas e ela obedeceu.
— E agora? A luz é mais clara?
— Um pouco. O cinzento é um pouco mais claro, mas continuo a não ver a sua mão —
disse Annie parecendo ofegante e começando a parecer bastante assustada. — Quanto
tempo vai demorar até eu voltar a ver normalmente? Quero dizer, tudo, como as formas,
as caras e as cores?
Era uma pergunta muito directa e o médico foi franco com ela.
— Annie, por vezes acontecem coisas que não têm conserto. Fazemos tudo o que
podemos para consertá-las, mas quando são quebradas, ou quando as ligações são
gravemente interrompidas, não podemos voltar a estabelecê-las, por mais que nos
esforcemos. Um desses canos que a atingiu no acidente danificou os seus nervos ópticos e
as veias que os alimentam. Quando isso acontece, é praticamente impossível reparar os
danos. Acredito que com o tempo irá ver luzes e sombras. Poderá até ver formas e
contornos e poderá chegar mesmo a ter a impressão de ver uma cor, muito à semelhança
do que acontece agora. A luz é muito intensa neste quarto agora e é essa cor
cinzento-pérola que consegue ver. Sem isso, o cinzento seria mais escuro. Esta situação
poderá melhorar um pouco com o tempo, mas apenas muito pouco. Annie, sei como deve
ser difícil digerir tudo isto, mas tem muita sorte em estar viva. Os danos poderiam ter sido
bem mais graves; o seu cérebro não ficou afectado para sempre no acidente. Mas os seus
olhos foram. Contudo, Annie, poderia ter perdido a sua vida.
Foi uma declaração muito dura, mesmo para o médico. Ele sabia muito bem que Annie era
uma artista. Toda a gente na família lhe contara, mas isso não mudava os danos sofridos
pelos olhos dela. E por mais que o desejasse, não havia nada que pudesse fazer a esse
respeito. Nesse momento, isso também não facilitou em nada a situação para Annie.
— O que está o senhor a dizer-me? — perguntou Annie com uma expressão de pânico.
Annie voltou o rosto na direcção do lugar onde pensava que as irmãs se encontravam e
não conseguiu ver nada. E até mesmo o cinzento que vira ao princípio lhe parecia mais
turvo agora, quando desviou a cara da luz.