A aurora incandescia por trás de nuvens cinza quando Kya atracou no cais de
Pulinho. Ele saiu da sua lojinha balançando a cabeça.
— Desculpa, Srta. Kya — disse ele. — Eles chegaram antes da senhorita. Já
completei minha cota de mariscos da semana, não dá para comprar mais não,
senhorita.
Ela desligou o motor e o barco bateu num dos pilares do cais. Era a segunda
semana que ela não chegava a tempo. Seu dinheiro tinha acabado e ela não podia
comprar nada. Estava reduzida a moedas de um centavo e mingau.
— Srta. Kya, a senhorita precisa arrumar outro jeito de arranjar dinheiro. Não
pode colocar todos os ovos numa cesta só, entende?
De volta ao barracão, ela se sentou nos degraus de tijolo e tábuas para pensar e
teve outra ideia. Pescou durante oito horas seguidas, então deixou os vinte peixes
que pegara de molho numa salmoura de água do mar durante a madrugada. Ao
amanhecer, enfileirou-os nas prateleiras da velha casinha de defumar de Pa — do
mesmo tamanho e formato de uma latrina —, acendeu um fogo no buraco e pôs
uns gravetos verdes na fogueira, como ele fazia. Uma fumaça cinza-azulada subiu
e começou a sair pela chaminé e por todas as rachaduras das paredes. A casinha
inteira fumegava.
No dia seguinte, ela foi até o posto de Pulinho e, ainda de pé no barco, ergueu
o balde. Aquilo não passava de um pouquinho de bluegills pequenos e carpas se
desfazendo nas espinhas.
— O senhor compra peixe defumado, Pulinho? Eu tenho alguns aqui.
— Ora, e não é que tem mesmo, Srta. Kya? Então a gente faz assim, olha: eu
fico com eles em consignação. Se eu vender, a senhorita fica com o dinheiro; se
não conseguir vender, eu devolvo eles como eles estão. Pode ser assim?
— Fechado, Pulinho, obrigada.
*
Naquela noite, Pulinho pegou a estradinha de areia até Colored Town, um
aglomerado de barracos, moradias improvisadas e até mesmo algumas casas
espalhadas por lamaçais de água parada e valas lamacentas. O acampamento
disperso ficava encravado bem no fundo da mata, longe do mar, sem brisa, e
“com mais mosquitos do que todo o estado da Geórgia”.
Depois de uns cinco quilômetros, começou a sentir o cheiro da fumaça dos
fogões improvisados flutuando por entre os pinheiros e a ouvir o rebuliço de
alguns dos seus netos. Não havia ruas em Colored Town, apenas estradinhas
como aquela, que cortavam a mata de um lado para outro até as casas das
diferentes famílias. Ele e o pai tinham construído uma casa de verdade, com toras
de pinheiro e uma cerca de madeira crua em volta do pátio de terra batida que
Mabel, sua esposa de tamanho avantajado, varria até deixar impecável como se
fosse um piso. Nenhuma cobra chegava a menos de dez metros dos degraus sem
ser detectada pela sua pá.
Ela saiu da casa para recebê-lo com um sorriso, como fazia com frequência, e