ele lhe entregou o balde com os peixes de Kya.
— O que é isso? — perguntou Mabel. — Parece coisa que nem cachorro ia
trazer para casa.
— É aquela menina de novo. Foi a Srta. Kya que levou isso para mim. Às
vezes não é ela que chega primeiro com os mariscos, então começou a defumar o
peixe. E quer que eu venda isso.
— Deus do céu, a gente precisa fazer alguma coisa com essa menina. Ninguém
vai comprar esse peixe dela, meu Deus, mas eu posso usar num ensopado. Talvez
a nossa igreja possa arrumar algumas roupas, alguma coisa para ela. A gente pode
dizer que tem uma família que troca suéter por carpa. Que tamanho ela tem?
— E está perguntando para mim? Magrinha. Tudo que eu sei é que ela é
magrinha feito um varapau. Acho que vai aparecer lá cedinho, antes dos galos
cantarem. Ela não tem mais um tostão.
*
Depois de comer mariscos requentados com mingau no café da manhã, Kya foi
de barco até o posto de Pulinho para ver se o peixe defumado tinha rendido
algum dinheiro. Durante todos aqueles anos, apenas ele estivera no posto ou
então clientes, mas enquanto se aproximava devagar ela viu uma mulher negra e
gorda varrendo o cais como se fosse o chão de uma cozinha. Pulinho estava
sentado na sua cadeira, recostado na parede da loja, anotando números no livro-
caixa. Ao vê-la, levantou-se com um salto e acenou.
— Bom dia — disse ela baixinho, deslizando com destreza até o cais.
— Olá, Srta. Kya. Tem alguém aqui para a senhorita conhecer. Esta aqui é
minha esposa Mabel.
Mabel se aproximou e parou ao lado de Pulinho, portanto quando Kya subiu
no cais as duas ficaram próximas.
A senhora estendeu a mão e segurou a de Kya, prendendo-a delicadamente na
sua, e falou:
— É um prazer conhecer a senhorita, Srta. Kya. Pulinho me disse que boa
menina você é. Uma das melhores catadoras de ostra.
Apesar de cuidar da horta, passar metade do dia cozinhando e esfregar e
remendar para os brancos, Mabel tinha a mão macia. Kya manteve os dedos
dentro da luva preta, mas como não sabia o que dizer ficou calada.
— Srta. Kya, a gente tem uma família que troca roupa e outras coisas que você
precisa por peixe defumado.
A menina aquiesceu. Sorriu para os próprios pés. Então perguntou:
— E gasolina para o meu barco?
Mabel olhou para Pulinho sem entender.
— Ora, ora — disse ele. — Vou te dar um pouco hoje porque sei que está
quase sem. Mas continua trazendo mariscos e as outras coisas assim que puder.
Com seu vozeirão, Mabel falou:
— Meu Deus, menina, não se preocupa com os detalhes. Deixa eu olhar para