Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

E Griezman respondeu:
— Não no sentido literal, claro. É só que é obcecado com determinadas
coisas. O que tem, sem dúvida, raízes em patologias racistas e xenófobas e surge
exacerbado por medos irracionais. Mas, fora isso, trata-se de uma pessoa
bastante normal.
— E acreditaria na palavra dele num tribunal?
— Com certeza.
— E um juiz e um júri também?
— Com certeza — repetiu Griezman. — No dia a dia, o homem funciona
muito bem. Afinal de contas, trabalha para o município. Como eu.
A esquadra revelou-se a melhor de Hamburgo. Era grande, nova e moderna.
E integrada. Tinha laboratórios incorporados. Lá fora, os caminhos encontravam-
se repletos de letreiros a cada esquina, a indicar este e aquele departamento. Lá
dentro, a mesma coisa. Era um complexo. Mais parecia um hospital municipal.
Ou uma universidade. Griezman estacionou o Mercedes num lugar reservado e
saíram todos. Neagley levou a mala e Reacher, o saco. Entraram no edifício a
seguir a Griezman, virando à esquerda e à direita depois dele, percorrendo
corredores amplos e limpos, até chegarem a uma sala de entrevistas com uma
porta que tinha um postigo com uma rede de arame. Lá dentro, estava um
homem sentado a uma mesa, com café e bolos diante dele e migalhas espalhadas
por todo o lado. O homem teria talvez uns quarenta anos. Trazia um fato
cinzento que talvez fosse de poliéster. E tinha cabelo grisalho, ralo e colado ao
couro cabeludo com óleo. Usava óculos com armação de aço. Tinha olhos claros
por trás das lentes. E uma pele clara. A única cor que havia nele vinha da
gravata. Era um turbilhão de amarelo e laranja. Era larga e curta, como se tivesse
um peixe pendurado ao pescoço.
Griezman disse:
— Chama-se Helmut Klopp. É do Leste. Veio para o Ocidente a seguir à
reunificação. Muita gente fez isso. À procura de trabalho, percebem?
Reacher continuava a olhar para o tipo. Possivelmente, um desperdício de
tempo, e, possivelmente, o salvador do universo conforme o conhecemos.

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