Jânio Quadros e os porcos | 101Jânio Quadros
e os porcos
Em 1953, ano em que nasci, o professor Jânio da Silva Qua-
dros, então prefeito da cidade de São Paulo, criou o seu maior
símbolo de marketing político: uma vassoura. Em 1960, Jânio
Quadros foi eleito Presidente da República do Brasil e, nesse
ano, pouco antes da eleição, nossas vidas se cruzaram por
alguns instantes.
Morava eu no Sítio São Judas Tadeu, a oito quilômetros de
Altinópolis e a setecentos metros da empoeirada estrada que
interligava Altinópolis a Minas Gerais, passando por Santo Antonio
da Alegria e chegando a São Sebastião do Paraíso, já dentro de Mi-
nas.
Com oito anos de idade já tinha minhas obrigações no sítio sendo
a principal cuidar da alimentação de cerca de vinte a trinta porcos
em um bem arrumado chiqueiro que meu pai havia construído. A
alimentação dos porcos vinha principalmente das sobras: frutas de
época que caiam ao chão, como mangas e abacates, animais que
eram mortos por algum vício de conduta como cachorros que co-
meçavam a comer galinhas e ovos em toda a vizinhança, inhame do
brejo, abóbora que era plantada no meio do cafezal e do milho e
farelo de arroz e fubá de milho com os quais tinha que fazer diaria-
mente cem litros de lavagem que esfriava a noite toda para no dia
seguinte ser servida. Ao lado do improvisado fogão, onde aquecia a
água para a lavagem, ficava a parede do dormitório dos porcos.
Certa vez, levaram um belo e saudável cachorro ao meu pai que o
entregou a mim para abater e cozinhar na lavagem. Ao limpar o
cachorro a carne estava tão bonita que não resisti. Peguei o coração
e fui levar a minha mãe para que o fizesse. A resposta foi uma bela
vassourada na bunda.
Fui então à minha tia Nice, que morava há poucos metros de nós,
e ela concordou em fazê-lo, mas avisou que não iria experimentar o
tempero da carne. Depois de pronto até minhas primas comeram
do delicioso coração.