nos eixos e a situação se regularizaria. Mas os sinais que eu recebia, na verdade, não
eram otimistas. Dias antes, Tolentino fora depor na CPI. Curiosamente, tentou parecer
que estava doente diante dos senadores, em razão de supostas sequelas da Covid. Só
que, no escritório, ele agia de forma normal, sem demonstrar qualquer sinal de que
estivesse debilitado. Pior que isso. Ali, diante dos parlamentares, ele disse que não
tinha nada a ver com meu pai ou com as empresas das quais meu pai era sócio, como a
MB Guassu e o FIB Bank. De testa de ferro, meu pai passava agora, diante do país
inteiro, a ser o único responsável por aquilo tudo.
Era uma insanidade. Eu não apenas sabia que meu pai trabalhava para Tolentino. Em
meio à papelada que encontrei em sua casa, havia um registro, em documento público,
comprovando o vínculo. Num termo de declarações assinado por meu pai em 9 de
janeiro de 2018, prestado numa delegacia de São Paulo por razões que eu desconheço,
ele reconheceu o falecimento do sócio Sebastião Lima, disse não estar a par da data
precisa da morte, alegou que não sabia quem era o verdadeiro dono da MB Guassu
(empresa da qual ele mesmo era sócio) e afirmou que trabalhava para o grupo de
Tolentino. Disse que sua função era de “assessoria na área de política empresarial”. Eu
guardo esse termo de declaração comigo, já que ele demonstra a relação que meu pai
tinha com o Tolentino – sobretudo porque, desde a CPI, Tolentino tem negado
publicamente ter qualquer coisa a ver com essas empresas das quais meu pai era sócio.
O relatório final da CPI ficou pronto no dia 26 de outubro. Em suas mais de mil
páginas, os senadores recomendaram o indiciamento de 78 pessoas, incluindo o
presidente da República, por crimes cometidos durante a pandemia. Tolentino está
entre os citados: é acusado de fraude em contrato, formação de organização criminosa e
improbidade administrativa. Os senadores classificaram Tolentino como “sócio oculto
do FIB Bank”. Ou seja, o relatório detalhava aquilo que, naquela altura, eu já sabia:
embora meu pai assinasse toda a papelada, quem era o responsável pela operação era
Tolentino. O governo, que poderia ajudar a esclarecer tudo, colaborando para
desvendar como e por que procuraram uma empresa tão enrolada como o FIB Bank
para garantir a compra da Covaxin, parece não ter interesse algum em fazê-lo, a julgar
pela reação das autoridades governamentais ao relatório final da CPI.
Minha mãe e meus irmãos já não tinham muito contato com meu pai quando tudo
aconteceu. Depois do divórcio, ele os ajudou financeiramente até a maioridade de cada
um, mas depois se afastou. Nunca foi um pai presente e tampouco deixou a família em
condição confortável após a separação. Minha mãe ficou sem nada. No final da vida,
como o salário que ele recebia de Tolentino foi minguando, eu e meus irmãos
ajudávamos a custear suas despesas básicas e medicamentos. Quando ele morreu, fui
encarregado de resolver a burocracia por ser o filho mais próximo dele, mas sempre