tive receio de contar à família tudo o que eu havia descoberto. Não queria preocupá-
los. Quando a CPI passou a investigar os negócios de Tolentino e o nome do meu pai
veio à tona, foi um susto para eles. Descobriram a confusão porque um conhecido
estava assistindo ao noticiário e avisou que o nome do meu pai havia sido citado pelos
senadores. Foi nesse momento que tive de contar tudo o que sabia. Agora, estão todos
assustados e preocupados comigo. Somos pessoas simples. Nada disso fazia parte da
nossa realidade.
Diante de tudo o que aconteceu, minha mãe se revolta: diz que, além de toda a
confusão que ele armou em vida, deixou como herança problemas ainda mais
complexos. Quando ele se foi, nós, os filhos, ficamos tristes. Era o nosso pai. Mas o
drama, neste momento, é maior, diante do imbróglio que devemos resolver. Não temos
poder, conexões políticas, influência. Somos as vítimas pequenas desse escândalo e,
portanto, o elo mais frágil. Meus irmãos e eu sempre nos perguntamos como meu pai
foi se envolver nisso. Mas não há resposta. Ele não ficou rico, não acumulou
patrimônio, não tinha nem casa própria quando morreu. Senão por dinheiro, por que
ele fez isso? Não acho que foi inocente. Não creio que as pessoas que participaram
disso, incluindo meu pai, tenham sido enganadas. Mas a razão, de fato, nunca
saberemos.
Ao contrário do que Tolentino prometera, quando o relatório final da CPI foi entregue,
ninguém me procurou para dar sequência ao meu caso. Ficaram em silêncio. Em
novembro do ano passado, o Ministério Público voltou a entrar em contato comigo em
busca do inventário do meu pai e eu voltei a recorrer a Tolentino. Foi quando Ricardo
Uchôa, advogado de Tolentino, me pediu que assinasse uma procuração dando a eles
plenos poderes para movimentar a MB Guassu na Junta Comercial – poderes que
incluíam obter certidões de quitação e transferir direitos sucessórios. Pedi explicações.
Por que precisavam de uma procuração para atuar na Junta Comercial sendo que o
problema estava no Ministério Público de Itapevi? Como confiar nessas pessoas depois
de mais de um ano de mentiras e enrolação?
Quando fiz esses questionamentos, Tolentino mudou o semblante. Disse que não iria
mais fazer nada por mim e que eu que me virasse para resolver tudo: o inventário, a
ação de improbidade, enfim, tudo que se relaciona ao meu pai. Depois de todo esse
tempo esperando, voltei à estaca zero. Mas desta vez decidi agir de forma diferente.
Estou sendo aconselhado por advogados e já apresentei tudo o que tenho ao Ministério
Público e à Polícia Federal: documentos, conversas de WhatsApp e áudios. Se essas
empresas, de fato, tiverem algum patrimônio, o que nos interessa é que ele seja usado
para resolver as pendências na Justiça. O que mais quero é me livrar dessas pessoas e
desse problema que não é meu, mas tem consumido a minha vida.