que tinham poderes de estimulação próprios e complementares. Havia o risco de que,
ao ser combinada, essa formulação sobrecarregasse o sistema imunológico. Para evitar
isso, a equipe poderia ter submetido o uRNA a um processo de purificação específico
desenvolvido pela BioNTech, mas Uğur queria simplificar as coisas. A BioNTech teria
que testar o uRNA na sua forma não purificada e torcer pelo melhor.
Já o modRNA, desenvolvido com um propósito inicial bastante diferente, atenuava os
estímulos. De acordo com Uğur, por mais que soubessem que “o modRNA seria bem
tolerado”, estavam “preocupados com a possibilidade de a resposta das células T não
ser tão forte quanto a obtida com o uRNA, e, com isso, a dose necessária ficar na faixa
de 200 a 300 microgramas – o que é até dez vezes maior do que a dose da vacina que
acabou chegando ao mercado”. Por outro lado, a capacidade dos lipídios de
desencadear a atividade imunológica, o que poderia comprometer as candidatas
baseadas em uRNA, talvez ajudasse o modRNA. Só havia um modo de ter certeza:
incluir ambos no estudo. Para os ensaios clínicos, foi selecionada uma única candidata
baseada em uRNA, assim como duas baseadas em modRNA – uma que codificava a
proteína Spike completa e outra que codificava o domínio de ligação ao receptor.
A última vaga foi dada à mais recente de todas as plataformas, o mRNA de
autoamplificação, ou aaRNA, a base de uma vacina que codificava a proteína Spike
completa, o que fez o número de candidatas do ensaio “primeiro em humanos” chegar
ao seu total máximo de quatro. Mas, enquanto o uRNA e o modRNA haviam passado
por vários ajustes realizados pela equipe da BioNTech ao longo dos anos, o aaRNA não
tinha sido aperfeiçoado dessa maneira nem fora aprovado com louvor nos testes pré-
clínicos de anticorpos. Ainda assim, como a plataforma fazia com que o mRNA se
reproduzisse durante um curto período após a injeção, o aaRNA trazia a promessa de
doses mais baixas, e Uğur decidiu dar uma chance a esse plano de contingência. Ele
pensava que o recém-chegado também poderia servir de base para uma vacina de
segunda geração, caso os resultados do ensaio de fase 1 ajudassem a empresa a ajustar
a fórmula do aaRNA.
As informações sobre as candidatas selecionadas foram repassadas à equipe em
Idar-Oberstein, onde se localizava a sede do maior centro de produção da BioNTech.
Não se tratava de uma simulação: as vacinas produzidas para ensaios clínicos tinham
que aderir a padrões extremamente rigorosos, a fim de evitar a contaminação ou