talvez até difamando-o ou chantageando-o ou drogando-o (o gigante era conhecido
nos ringues internacionais por seu temperamento influenciável), a companhia
poderá facilmente silenciá-los.
Não posso impedir que os lentos tentáculos de minha mente avancem uma
hipótese de cada vez, explorem labirintos de consequências percorridas pelas
memórias magnéticas num nanossegundo. É do meu computador que Skiller
espera uma resposta, não de mim.
É verdade que cada um dos quatro catastróficos personagens demonstra ser
mais apto a assumir o papel de sujeito de certos verbos contidos na lista e o
papel de objeto de outros verbos. Mas quem pode negar que os casos
aparentemente mais improváveis sejam os únicos que se deva reter? Tomemos
o que, entre os doze verbetes, parece o mais inocente, seduzir. Quem seduziu
quem? Por mais que eu me concentre em minhas fórmulas, um fluxo de
imagens continua a rodopiar em meu espírito, a desabar e a se recompor como
num caleidoscópio. Vejo os dedos compridos da manequim, com unhas pintadas
de verde e roxo, roçarem o queixo mole, o buço cerrado do jovem senhor
mendigo, ou fazerem cócegas na nuca coriácea e ávida do campeão usbeque,
que, experimentando uma longínqua sensação agradável, arqueia seus deltoides
como os gatos que ronronam. Mas, de repente, vejo também a Ogiva lunar
deixando-se seduzir, enfeitiçada pelos afagos taurinos do meio-pesado ou pela
devoradora introversão do rapaz à deriva. E vejo também a velha viúva visitada
por apetites que a idade pode desestimular mas não extinguir, maquiando-se e
embonecando-se para seduzir uma ou outra presa masculina (ou ambas) e
vencer resistências de peso diferenciado, mas, em matéria de vontade,
igualmente fracas. Ou então vejo-a, ela mesma, como objeto de perversa
sedução, seja pela disponibilidade dos desejos juvenis que leva a confundir as
estações, seja por um cálculo suspeito. E eis que, completando o desenho,
intervém a sombra de Sodoma e Gomorra e desencadeia-se o torneio dos
amores entre sexos não opostos.
Será que o leque dos casos possíveis pode se restringir aos verbos mais
criminosos? Nada garante: qualquer um pode esfaquear qualquer um. Eis Belindo
Kid trespassado como traidor por uma lâmina de punhal na nuca que mutila a
sua medula espinhal como a do touro na arena. Vibrando com a exatidão da
facada pode estar tanto o pulso fino, de pulseiras tilintantes, de Ogiva, num frio
arroubo sanguinário, quanto os dedos distraídos de Inigo, que balançam o punhal
pela lâmina, o lançam no ar com inspirado abandono, numa trajetória que atinge
o alvo quase por acaso; ou também as garras da nossa senhoria lady Macbeth,
que, de noite, afasta as cortinas dos quartos e paira sobre a respiração de quem
dorme. Não são só essas as imagens que se amontoam em minha mente: Ogiva
ou a velha Roessler degolam Inigo como um cordeiro, cortando-lhe o pescoço;
Inigo ou Ogiva arrancam da mão da viúva o facão com que ela fatia o bacon e a
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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