esquartejam na cozinha; a velha Roessler ou Inigo secionam, como cirurgiões, o
corpo nu de Ogiva, que se contorce (amarrada e amordaçada?). Quanto a
Belindo, se o facão tinha ido parar na sua mão, se naquele momento ele havia
perdido a paciência, se alguém talvez o tivesse intrigado com outro, não faltaria
muito para que ele esquartejasse todo mundo. Mas que necessidade ele, Belindo
Kid, tinha de esfaquear, quando havia à sua disposição, escrito no índice do
caderno e nos seus circuitos sensório-motores, um verbo como estrangular, tão
mais de acordo com suas aptidões físicas e seu treinamento técnico? Além disso,
um verbo do qual ele podia ser só o sujeito e não o objeto: eu gostaria de ver os
outros três tentando estrangular o meio-pesado do vale-tudo, com seus dedinhos
que nem conseguem agarrar aquele pescoço igual a um tronco de árvore!
Portanto, este é um dado que o programa deve ter em conta: Belindo não
esfaqueia, mas, de preferência, estrangula; e não pode ser estrangulado; só se for
ameaçado com revólver pode ser amarrado e amordaçado; uma vez amarrado e
amordaçado, pode lhe acontecer qualquer coisa, inclusive ser violentado pela
ávida velha, ou pela manequim impassível, ou pelo jovem excêntrico.
Comecemos a estabelecer prioridades e exclusões. Alguém pode primeiro
ameaçar com revólver outra pessoa e depois amarrá-la e amordaçá-la;
evidentemente, seria supérfluo amarrar primeiro e ameaçar depois. Quem, ao
contrário, esfaqueia e estrangula, se nesse meio-tempo ameaçasse com revólver
cometeria um ato incômodo e redundante, imperdoável. Quem conquista o
objeto de seus desejos seduzindo-o não precisa violentá-lo; e vice--versa. Quem
prostitui outra pessoa pode tê-la anteriormente seduzido ou violentado; fazer isso
depois seria uma inútil perda de tempo e de energias. Pode-se espionar uma
pessoa para chantageá-la, mas se ela já foi difamada a revelação escandalosa não
poderá mais apavorá-la; portanto, quem difama não tem interesse em espionar,
nem tem mais argumentos para chantagear. Não se exclui que quem esfaqueia
uma vítima estrangule outra, ou que a induza ao suicídio, mas é improvável que as
três ações letais se exerçam na mesma pessoa.
Seguindo esse método é que posso elaborar o meu organograma: estabelecer
um sistema de exclusões com base no qual o computador seja capaz de
descartar bilhões de sequências incongruentes, reduzir o número das
concatenações plausíveis, aproximar-se da escolha da solução que se impõe
como verdadeira.
Mas será mesmo possível? Ora eu me concentro em construir modelos
algébricos em que fatores e funções sejam anônimos e intercambiáveis,
afastando de meu espírito os rostos, os gestos daqueles quatro fantasmas; ora
me identifico nos personagens, evoco as cenas num cinematógrafo mental todo
feito de decomposições e metamorfoses. Em torno do verbo drogar talvez gire a
roda dentada que engrena em todas as outras rodas: de repente o espírito
associa a esse verbo o rosto leitoso do último Inigo de uma estirpe ilustre. A
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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