brincadeira, mas uma coisa deles, dele e dela, que nem comer e beber.
De repente os olhos da mulher, já brilhando, num bater de cílios ficaram
obstinados, irados, seus braços lhe resistiam, ela se contorcia debaixo dele,
gritava: “Socorro, ele está metendo em mim!”. Os outros chegaram, às
gargalhadas, berrando, jogaram água em cima dele. Então tudo voltou a ser
como antes: aquela dor colorida até o fundo do crânio; Margherita, que ajeitava
o vestido no seio, e dava risos forçados, Margherita, que quando já estava com
os olhos brilhantes e a boca úmida começara a gritar e a chamar os outros, não
se entendia por quê. E Natale, com todos os companheiros em volta, que
rolavam nas camas de tanto rir e atiravam no ar, começou a chorar como uma
criança.
Os alemães acordaram todos de uma vez, numa manhã: chegaram em
caminhões carregados e vasculharam a zona, moita por moita. O Louro,
despertado pelos tiros, não teve tempo de escapar e, no meio do prado, foi
atingido por uma rajada. Natale se salvou acocorado atrás de uma moita,
enfiando a cabeça na terra a cada assobio de bala. Depois da morte do Louro, o
grupo se desfez; uns morreram, outros foram presos, uns traíram e se
bandearam para os camisas-negras, outros continuaram a circular pela região
entre uma batida e outra, outros subiram para a montanha com as brigadas.
Natale estava entre estes últimos. Na montanha a vida era mais dura: cabia
a Natale andar de um vale a outro, carregado como uma mula, fazendo os
turnos de guarda e das corveias; igual a quando era militar, cem vezes pior e
cem vezes melhor. E os companheiros que riam dele e caçoavam eram como os
companheiros que riam dele e caçoavam quando era militar, mas também
havia algo diferente, que com certeza ele compreenderia se não houvesse
aqueles patos batendo asas dentro da sua cabeça.
Conseguiu entender tudo na hora em que se viu frente a frente com os
alemães, que subiam pela alameda até Goletta e disparavam rajadas de “cospe-
fogo” entre as moitas. Então, deitado no chão, começou a disparar mosquetaços
um atrás do outro e entendeu por que o fazia. Entendeu que aqueles homens lá
embaixo eram os soldados que o haviam prendido porque ele não estava com os
documentos regularizados, eram os vigilantes da Todt que marcavam suas
horas, eram o tenente de serviço que o fazia limpar as latrinas, eram todas essas
coisas juntas, mas eram também o patrão que o mandava capinar com a enxada
a semana inteira antes que ele fosse ser soldado, eram os rapazinhos que o
fizeram tropeçar na calçada na vez em que ele fora à cidade para a feira, eram
até mesmo o seu pai, naquele dia em que lhe dera um tabefe. E eram também
Margherita, Margherita que já estava ali quase gozando com ele e depois tinha
voltado atrás, não propriamente Margherita mas aquela coisa que fizera
Margherita voltar atrás: esse era um pensamento ainda mais difícil que os
outros, mas naquele momento ele entendia. Depois parou para pensar por que
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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