— Você tinha um amigo na direção, Tommaso, e nunca nos disse! —
brincavam os companheiros.
Mas Tommaso empalidecia: compreendera naquele instante que o cachorro
farejava o cheiro do coelho ensopado.
Guderian passou ao ataque. Pôs uma pata no peito de Tommaso e quase o
derrubou junto com a cadeira, deu-lhe uma lambida no rosto molhando-o de
saliva, e o velho, para mandá-lo embora, fazia o gesto de quem lança uma
pedra, de quem olha para um tordo, de quem pula um fosso, mas o cachorro não
entendia a mímica ou não caía nas ciladas, e não o largava; muito pelo
contrário, pois, tomado como por um imprevisto acesso de alegria, saltava
levantando as patas traseiras até os ombros do operário, voltando sempre a
meter o focinho perto do bolso do paletó.
— Passa, totó, anda, vai embora! Sai, totó, santo Deus! — resmungava
Tommaso, com os olhos injetados de sangue, e no meio de suas festas Guderian
sentiu chegar um pontapé seco em seu flanco. Lançou-se para cima dele, na
altura de seu rosto, arreganhando os dentes, e depois, de repente, mordeu a aba
do paletó e puxou. Tommaso só teve tempo de puxar o filão, para que ele não
lhe arrancasse o bolso.
— Ora vejam, um sanduíche! — disseram os companheiros. — Claro, você
está com a refeição no bolso, é natural que os cachorros saiam atrás de você!
Que desse para nós, quando sobrasse!
Tommaso, levantando o mais possível seu braço curto, tentava salvar o pão
dos ataques do dinamarquês. — Largue-o e dê para o cachorro! Do contrário,
você não vai mais se livrar dele! Dê o pão para ele! — diziam os companheiros.
— Passe! Passe para mim! Por que não passa? — dizia Criscuolo, batendo as
mãos, pronto para pegá-lo no voo como um jogador de basquete.
Mas Tommaso não passou. Guderian deu um pulo mais alto ainda e foi se
agachar num canto com o pedaço de pão entre os dentes.
— Deixe-o para lá, Tommaso, o que é que você quer fazer agora? Vai
acabar sendo mordido! — diziam os companheiros, mas tudo indica que o velho,
de cócoras ao lado do dinamarquês, tentava argumentar com ele.
— Mas o que é que ele quer agora? Pegar um pão já comido pela metade? —
perguntavam os companheiros, e nisso a porta se abriu e apareceu a secretária:
— Queiram entrar, por favor. — E todos se apressaram em segui-la.
Tommaso fez menção de ir atrás deles, mas, realmente, não se conformava
em jogar fora assim o colar. Tentou fazer com que o cachorro viesse atrás dele,
mas depois pensou que, se aparecesse diante do doutor Starna com o colar na
boca, seria pior, e mais uma vez se abaixou para sussurrar-lhe (tentando
imprimir em sua cara furiosa um inútil e grotesco sorriso): — Dá aqui, totó, dá
aqui, seu bicho desgraçado!
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1