novidades, também ficavam imóveis, um no alto do joanete, outro na vela
grande, um terceiro montado na verga, empoleirados lá no alto folheando atlas
e cartas náuticas...
— E então, tio Donald! — caímos de joelhos aos pés dele, suplicávamos de
mãos postas, sacudíamos o seu ombro, berrando.
— Diga-nos como foi que acabou, pelo amor de Deus! Não aguentamos
mais esperar! Continue, tio Donald!
Nota de 1979
Reli “A grande bonança das Antilhas”. Talvez fosse a primeira vez que eu
relia esse meu relato, desde então. Não acho que envelheceu, e não só porque se
sustenta como um relato em si, independentemente da alegoria política, mas
também porque o contraste paradoxal entre luta feroz e imobilidade forçada é
uma situação típica, tanto político-militar como épico-narrativa, pelo menos
tão antiga quanto a Ilíada, e é natural referi-la à sua própria experiência
histórica. Como alegoria política italiana, se pensarmos que se passaram vinte e
dois anos e que os dois galeões continuam aí se defrontando, a imagem se torna
ainda mais angustiante. É verdade que esses vinte e dois anos não foram
propriamente de imobilismo para a sociedade italiana, que se transformou mais
do que nos cem anos anteriores. E a época em que vivemos não pode
certamente ser definida como de “bonança”. Nesse sentido, não se pode dizer
propriamente que a metáfora ainda corresponda à situação; mas — atenção! —,
mesmo naquela época, só forçando um pouco as coisas é que se poderia falar de
bonança: eram anos de uma tensão social dura, de lutas arriscadas, de
discriminações, de dramas coletivos e individuais. A palavra “bonança” tem um
som bonachão que não tem nada a ver com o clima de então nem com o de
agora; mas tem a ver a atmosfera pesada, ameaçadora, enervante das bonanças
oceânicas para os navios a vela, como os representam os romances de Conrad e
Melville, de quem evidentemente deriva o meu relato. Portanto, a sorte que
teve a minha metáfora na propagandística política italiana se explica pelo fato
de que ela exprime algo mais do que um termo qualquer da linguagem política,
“imobilismo”, por exemplo. É o impasse numa situação de luta, de antagonismo
inconciliável, ao qual corresponde um imobilismo dentro dos dois campos:
imobilismo inato do campo “espanhol”, nisso coincidindo com os seus programas
e os seus fins; ao passo que no campo “pirata” há a contradição entre a vocação
para a “guerra de corrida”, com uma relativa ideologia (“as regras da frota do
almirante Drake”), e uma situação em que recorrer a canhoneios e abordagens,
além de impossível, seria contraproducente, suicida... No relato eu não
propunha soluções — assim como não saberia propô-las agora —, mas traçava
uma espécie de catálogo das atitudes possíveis. Havia dois estados-maiores
antagônicos, tendo em comum a vontade de manterem a situação com o