mínimo possível de mudanças (por motivos opostos, mas longe de serem
infundados), dentro, sobretudo, dos respectivos navios, e fora, no equilíbrio das
forças. (Sobre esse ponto, é verdade, não se pode negar que houve mudanças,
especialmente no pc e na esquerda em geral, mas também na dc, quando nada
por seu amadurecimento.) Depois havia os partidários do combate, de um lado
e outro, impelidos por motivações mais de temperamento que de estratégia; e
os partidários do diálogo, de um lado e outro. (O desenvolvimento dessas duas
polaridades corresponde ao que se verificou na realidade, seja como política dos
grandes entendimentos seja como pressão revolucionária, sempre sem se mudar
muito a situação mas mesmo assim dando a ilusão de atividade.) Há também a
perspectiva apocalíptica (“uma tempestade que talvez tivesse mandado nós
todos a pique”), alusão às discussões sobre a perspectiva de uma guerra
atômica, que justamente na época separavam os soviéticos — que a
apresentavam como o fim da civilização — dos chineses, que tendiam a
minimizar seus perigos. Também característico do momento em que o conto
foi escrito é o apelo ao desenvolvimento tecnológico do qual, na época, se
esperava que viesse uma solução (falava-se muito de “automação” como de
algo que mudaria radicalmente os dados do problema). Mas a invenção da
máquina a vapor que eu evocava talvez tenha ficado no estágio do pirata que
brinca com a cafeteira.
Alguns esclarecimentos “históricos”: não posso estabelecer agora a data
exata em que escrevi o relato; lembro-me de que o número de Città aperta
demorou muito a sair, portanto o relato data de alguns meses antes, quando eu
ainda estava no auge das discussões internas pela renovação do pci. Dentro do
mundo engajado nesse debate, o meu relato logo encontrou um consenso entre
os favoráveis de um revisionismo tanto de direita como de esquerda: fossem
“revolucionários” fossem “reformistas”, nele viam suas próprias razões; mas é
preciso dizer que na época nem sempre os dois campos estavam claramente
definidos. Quando o número de Città aperta saiu, o meu relato foi republicado
pelo Espresso e teve ampla divulgação. O Avanti lhe dedicou um artigo de fundo.
Em seguida, um jornal de extrema-esquerda, o Azione comunista, publicou uma
paródia do conto, ligando-o a situações e pessoas específicas. A essa paródia, e
no mesmo tom de polêmicas pessoais, respondeu com outra paródia Maurizio
Ferrara no Rinascita, assinando-se “Little Bald”. Mas ao mesmo tempo, no
verão de 1957, tinha havido a minha demissão do pc, e “A grande bonança” foi
considerada uma espécie de mensagem que acompanhava a minha demissão, o
que não era, já que datava de uma fase anterior.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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