A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

enquanto ela ainda estava nua. Tinham rido. A situação era cômica, mas também
um pouco picante, e, por alguma estranha razão, uma das fotos foi parar no
Facebook, provavelmente porque pareceu divertido tê-la como o pequeno segredo
deles, sabendo que o resto do retrato, que não se via no perfil, era um nu.
Havia toneladas de mensagens de antigas amigas que, na maioria dos casos,
tinham desaparecido pouco a pouco de sua vida. Rikke havia escrito que esperava
que Eva telefonasse logo. Eva olhou a data. A mensagem tinha mais de quatro
meses, e Eva precisou fazer força para lembrar que Rikke era uma moça com quem
tinha estudado na faculdade de jornalismo e que tinha largado o curso poucos
meses depois de ter começado. “Será que eu deveria escrever uma mensagem para
Martin?” Afinal, ele continuava sendo seu “amigo” no Face. Ou deveria “excluí-lo”?
“Back to the future”, pensou. Apesar disso, escreveu a mensagem. “Como sinto sua
falta, safado!” Depois ficou sentada um tempo sem fazer nada, pensando em sua
psicose aguda. O que queria dizer aquilo? Que tinha inventado tudo, inclusive o
caso de Malte? Tirou o desenho da bolsa. Era real. Por ora, tudo bem. E o tio do
garoto? Será que tinha perfil no Facebook? Digitou no campo de busca o nome da
mãe de Malte; “Helena Brix Lehfeldt”. A foto de Helena que apareceu na tela não
era boa – estava um pouco borrada, parecia um tanto fortuita –, mas era simpática,
pensou Eva. A maioria das pessoas fazia todo o possível para ficar bonita no
Facebook, para se apresentar, e apresentar sua vida, como se fosse um sucesso
retumbante do começo ao fim. E ali, de repente, havia uma pessoa que era mais bela
que a maioria e não tinha necessidade de exibir a beleza. Era um perfil fechado, com
muito pouca informação. “Casada com Adam Lehfeldt, mora em Copenhague,
estudou na Herlufsholm Skole,[5] formou-se em 1998.” Só isso. Nada sobre o
número de amigos. Nada sobre o número de filhos. Nenhuma outra foto além
daquela do perfil, que podia ter sido tirada em qualquer lugar. Nem uma única
palavra sobre o irmão, o falecido tio de Malte.
Eva digitou “dama de companhia” e “suicídio”. Nada. Digitou “Helena Brix

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