A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

mesma; tal como o resto das mulheres de Hollywood, as cirurgias a tornaram
irreconhecível, a transformaram em outra. Será que Eva deveria ter feito algo
consigo mesma, transformando-se em outra? Tomou fôlego.



  • Vamos, Eva, é agora! – sussurrou.
    Agora que não podia fazer outra coisa, passava bastante tempo estudando a
    própria aparência. O cabelo estava mais ou menos bom; tinha tingido no dia
    anterior, de castanho, e ele combinava magnificamente com seus olhos verdes, ou
    assim achava, embora nos primeiros dias sempre parecesse um pouco tingido
    demais, não importando que já o tivesse lavado três vezes. Além disso, melhor estar
    um pouco escuro do que ter fios brancos. Era nova demais para exibir fios brancos

  • tinha só trinta e quatro anos. As pessoas se perguntariam: “Qual é a da grisalha?
    Quem é ela? O que está fazendo aqui? Qual é sua história?” Então ela responderia
    que era jornalista e tinha trabalhado no diário Berlingske, mas que a tinham
    demitido na última leva de cortes de pessoal, por causa da crise econômica. Mais
    nada. Uma versão abreviada, não de todo correta. Mas que direito tinham os outros
    de exigir que dissesse toda a verdade? Quando era jornalista, provavelmente teria
    respondido que sim, tinham direito a conhecer a verdade. Só que já não estava tão
    certa disso.
    Eva esperou um momento antes de dar uma batida de leve no vidro. Ninguém
    deu pela sua presença. Na rua, os dois pais e a professora continuavam a reclamar
    do cão de rinha solto. Eva tornou a bater.
    Uma professora abriu a porta.

  • Mil duzentos e sessenta e seis.

  • Mil duzentos e sessenta e seis?

  • É. A senha é essa.

  • Eu sou a Eva. Parece que começo a trabalhar na cozinha hoje.

  • Você tem que falar com a Anna, a subdiretora. Torben, o diretor, está fazendo
    um curso. Eu sou a Mie.

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