A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

daquele jeito, que a decisão era catastrófica para todos. Enquanto descia a escada
em direção aos banheiros, Eva pensou que talvez Kamilla estivesse equivocada, que
a decisão era a melhor para a maioria, mas que Torben tinha deixado os adversários
com a faca e o queijo na mão. Eva se lembrou das lutas pelo poder na redação.
Tinha tido uma boa atuação nelas, ainda que não tão boa quanto a de Kamilla.



  • Já estamos dentro – disse Rico, teatral.
    “Dentro.” Eva se surpreendeu com a expressão. Parecia coisa de filme de ação. Ela
    ponderou se lhe contava do assalto que tinha sofrido em casa.

  • Eva, você está aí?

  • Estou.

  • Pelo visto, o último torpedo que ele mandou foi uma mensagem de despedida.
    Você quer que eu leia?
    Eva hesitou um instante, como se tivesse que vencer uma barreira moral antes de
    dizer sim. Reclinou-se, apoiando as costas no frescor dos azulejos. Flagrou o próprio
    reflexo no espelho e pensou no quanto era significativo que as conversas com Rico
    acontecessem às escondidas nos banheiros dos funcionários. Rico, sem vontade de
    esperar que Eva lhe desse o consentimento, começou a ler:

  • “Querida Helena, minha irmãzinha. Não dá mais. Não quero continuar. Eu
    adoro você. Sempre vou adorar.”
    Rico havia lido a mensagem com uma indolência espantosa, mas talvez tenha sido
    justamente por isso que as palavras atingiram Eva com tanta dureza. Tudo era tão
    sóbrio, tão frio... Pensou em Martin, na morte. A morte, Eva sabia, era daquele jeito

  • breve, precisa, simples, direta. Na noite em que tinha recebido o telefonema que a
    informava da morte de Martin, foi tudo igualmente simples e direto.

  • E bang! – disse Rico. – Enfiou a espingarda na boca e atirou, sem mais firulas.
    Mandou o torpedo às oito e cinquenta e dois da manhã.

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