se ele quisesse mesmo trepar quando voltasse para casa, tinha pelo menos que saber
que ela era puta, porque era de fato. Talvez isso não tivesse importância. O amor
era coisa que ela havia perdido. O amor estava na pior, como um grande valor
interior, algo que por certo havia estado ali, mas que tinha se quebrado. Assim, por
que não um pouco de sexo? Pelo menos conseguiria dar prazer aos outros. Tirou as
calças e a blusa. Então começou a entender que estava em pé, de calcinha e sutiã, no
chão recém-encerado de Rico. Sentia-se ligeiramente mal, talvez com um pouco de
náuseas, um pouco enojada de si mesma, de não entender a si própria.
- Tudo... – sussurrou, e se lembrou de um livro que tinha lido sobre uma
francesa que era amarrada e açoitada e gostava disso. Eva sentia-se como se o sangue
não fluísse mais para a cabeça; estava enjoada quando se agachou para tirar a
calcinha. Tinha deixado os pelos do púbis crescerem. Não tinha se preparado.
Agora era tarde para lamentar. Tirou o sutiã. Estava pronta. - Era assim que você queria?
Aproximou-se da janela e deu uma olhada na praça. Não via Rico em parte
alguma. Então notou que a vidraça inferior da janela estava quebrada. Havia
pequenas manchas de sangue no parapeito. Eva passou o dedo nele. Era sangue
fresco. Rico tinha se cortado. Talvez estivesse no pronto-socorro. Foi o que pensou
durante alguns segundos. Depois entendeu, e a certeza a atingiu em cheio. Tinham
estado ali. Eles. Olhou para o chão. Também ali havia manchas do sangue de Rico.
Eles o tinham carregado pela sala, como tinham feito com ela. Seguiu o rastro das
manchas. Acabavam no quarto, debaixo do edredom que estava no chão. - Meu Deus! – sussurrou. Avançou dois passos, agarrou o edredom e puxou.
O barulho de um balde que tombava. Registrou-o sem entender que tinha sido
ela que o derrubara. Os degraus debaixo de seus pés estavam vivos, dentes de um
predador que a tinha escolhido para presa. Compreendeu que estava no patamar da