batente cedeu. Alguém ouviria Eva se ela continuasse gritando? Teve vontade de
morrer, de acabar de uma vez por todas. Aquilo não terminaria nunca. Não até que
ele estivesse satisfeito. Só isso já fez Eva ficar de pé.
- Filho da puta! – ela gritou. – O que você quer de mim?
Iluminou o banheiro com o celular. Não havia jeito de sair; a janela era pequena
demais. Pelo teto? Uma grade quadrada de metal cobria o pequeno buraco entre as
placas de gesso. Era a saída do exaustor, e talvez conseguisse alcançá-la se subisse no
vaso, apoiasse um pé na pia e o usasse para tomar impulso. Já estava em pé em cima
da tampa do vaso, iluminando o teto com o celular. Viu dois parafusos. Quem dera
houvesse uma moeda à mão! Mas tinha apenas a unha e o dedo, que conseguiu
enfiar por baixo da grade. - Socorro!
Gritou com tanta força que sentiu a garganta doer.
Os parafusos estavam muito duros, e o espelho do banheiro caiu ruidosamente na
pia. Devia tê-lo chutado, foi isso. O barulho sufocou por um instante o do homem
que lutava para arrebentar a porta, e agora Eva tinha na mão um pedaço de espelho
quebrado. Ela o iluminou. Enfiou-o na fenda do parafuso e o usou como chave;
girou repetidas vezes o pedaço de vidro. O sangue lhe brotou da ponta dos dedos,
mas o parafuso se soltou, e Eva de imediato pôde tirá-lo e dedicar-se ao outro, o
último, que estava mais duro, que se recusava a sair, que devia estar colado ao gesso,
que... A porta estava quase cedendo. Houve umas pausas rápidas entre os golpes.
Estaria o homem tomando impulso para se jogar contra a porta? Eva puxou a grade,
forçou-a para um lado até que o metal dobrado cedeu, do mesmo modo que o
doido que estava do outro lado da porta pretendia que ela cedesse. A grade caiu no
chão com um ruído surdo e desagradável, um som inconcluso. “Isto não vai acabar
aqui, ele vai vir atrás de você...” Talvez aquele ruído tivesse levado o homem a se
deter um instante, a parar de dar pontapés. A desistir?
Eva conseguiu subir para o duto e arrastar-se por ali.