- Por que não? Você tem medo do quê?
- Ele me mata.
A diretora do abrigo assentiu, serena. - Mas ele não pode fazer essas coisas, Eva. É crime.
Eva não respondeu. Liv tinha parado. Estavam na penumbra de um porão. - Até há duas janelas aqui embaixo, mas, mesmo que alguém entrasse por elas,
não conseguiria subir para o abrigo. O único jeito de ir lá para cima é pelo elevador,
e é preciso uma chave para usá-lo. - OK – disse Eva, ainda sem saber se estava mesmo se sentindo segura.
- Eu entendo que você esteja com medo. A maioria das mulheres que moram
aqui tem medo; eu, no lugar delas, também teria. Você deve estar com fome, não?
Quando foi a última vez que comeu? - Não, eu estou bem.
- Certeza?
Eva fez que sim. - Vamos ter que passar pelo pronto-socorro, Eva. É preciso que um médico
examine você. Pode ter havido alguma lesão que a gente não vê e que precisa de
tratamento. OK?
Eva tornou a assentir. - Muito bem, então. Vamos chamar um táxi.
Ter visto as medidas de segurança a deixou um pouco mais calma, constatou Eva
quando saíram à porta do abrigo de esperar o táxi. Sentia-se um pouco mais segura
agora. Pensou em quanto lhe tinha sido fácil mentir, talvez porque aquilo não
parecesse mesmo mentira, talvez porque de certo modo era verdade o que tinha
contado. Um homem perigoso andava atrás dela. Ele a machucaria se a encontrasse.
Eva tinha realmente medo.