Dyrehaven, Grande Copenhague – 14h10
Não era paranoia. Era fato. Eva tinha descoberto a câmera ao subir no ônibus.
Apressando-se a sentar, ficou maldizendo a si mesma. Devia ser mais cuidadosa.
Será que a vigiavam? Talvez... Não tinha como ter certeza. Talvez se usasse peruca
escura e óculos de sol... Adiantaria? No ônibus, seguiu uma velha, falou com ela,
sentou ao seu lado e tentou o tempo todo pensar como as pessoas que, em algum
lugar, sentam em frente a monitores e nos vigiam. “Estão procurando uma mulher
sozinha.” Pois ali estava uma mulher que acompanhava a avó. Embora Eva
precisasse seguir até o Dyrehaven, desceu com a velha em Nørrebro para poder
desempenhar o papel, para que não a achassem. Lançou um olhar à câmera do
ônibus quando este se afastou. A câmera: um céu invertido, com a parte côncava
voltada para baixo, observando-nos.
Demorou a achar uma loja de perucas, mas depressa encontrou ali uma peruca
escura, lisa, com franja. Não usava peruca desde a encenação de Um conto de Natal,
de Dickens, no ensino fundamental. Olhou-se no espelho. Parecia uma mulher de
negócios da metade sul do continente, uma dessas francesas elegantes que se veem
pelas ruas de Paris.
Num posto de gasolina, comprou óculos escuros por 39,95 coroas. Depois
retomou o trajeto.
Eva desceu do ônibus no estacionamento do parque e olhou em volta. Havia uma
solitária mesa de madeira, chumbada ao asfalto, e o tampo estava coberto de líquen