Hospital Nacional, Copenhague – 14h21
Marcus estava no corredor. Tinha esperado um tempinho até que as coisas se
acalmassem e ele pudesse sair do quarto. Deu uma olhada para a sala onde estava o
computador, que o tentava com a promessa de uma resposta sobre o paradeiro de
Eva Katz. Durante os poucos minutos em que tinha ficado à espera, foi tomado por
muitos sentimentos. Impotência. A sensação de ter perdido tudo. Mas não estava
correto. Tudo continuava em perfeita ordem, o sistema funcionava como devia.
Marcus sempre soubera que chegaria o dia em que seria ele o sacrificado. Era o que
tinha explicado a Brix naquela noite fatal; só que Marcus não achava então que a
coisa viesse a ser tão imediata.
A enfermeira saiu da sala de administração, vindo no sentido de Marcus, que
tornou a entrar no quarto. Ela passou direto. Ele saiu. A parte posterior da coxa
direita quase não queria obedecer a Marcus. Ele entrou na sala de administração
mancando e apoiando-se na parede. Sentou diante do computador. Apertou uma
só tecla, e a tela se iluminou. “Digite sua senha.” Olhou em volta. Não havia senha
na mesa, nem no quadro de cortiça. O que fazer? Precisava observar algum
funcionário que digitasse a senha. Era o beabá da espionagem. Não dava para
Marcus se esconder naquela sala; era pequena demais, seria visto onde quer que se
colocasse. Ouviu passos no chão de linóleo. A enfermeira estava voltando. “Pense.
Rápido.” Ela já estava perto da sala.
- Um espelho – murmurou Marcus para si mesmo. Não havia nenhum.