Molduras; elas têm vidro. Tirou da parede um dos quadros, uma reprodução
impressa de Renoir. Deixou-o sobre a mesa, encostado à parede. Lançou um olhar
para o corredor. A mulher conversava com um paciente; ainda restavam alguns
segundos a Marcus. Sentou na cadeira em frente à mesa, a cadeira dos pacientes, e
verificou o ângulo; não tinha ficado muito bem, a luz não era boa. Corrigiu a
posição da luminária de mesa, dirigindo-a para o teclado.
- Ora, ora. Quem temos aqui?
Marcus se voltou. Era o médico. - Essa luminária. Ela estava me cegando.
- Normal – disse o médico, secamente. – Dor de cabeça após choque mecânico;
fotossensibilidade.
Sentou. - Desculpe se fui tão mal-educado – disse Marcus. – Ando confuso.
- Não pense mais nisso. Mas você precisa voltar para a cama. – O médico olhou,
surpreso, para o quadro que estava em cima da mesa. - Eu tenho uma coisa muito importante para dizer.
- Sim?
- Tenho alergia a penicilina e alguns analgésicos – disse Marcus.
- Tenho certeza de que estamos sabendo disso.
- Meu clínico geral já tinha registrado isso na minha ficha.
- É claro que...
Marcus o interrompeu: - Não vou conseguir dormir direito se não confirmar que não me deram essas
coisas aqui. Da última vez, quase morri. Tive umas dores horrorosas.
O médico encarou Marcus um instante e balançou a cabeça, desanimado. - O seu número de identidade?
Marcus concentrou toda a atenção no Renoir. Pelo vidro do quadro, viu os dedos
do médico pairarem acima do teclado. Com um dedo da mão direita, o médico