Departamento de Medicina Legal da Universidade de Copenhague – 16h02
Não é permitido acessar os laudos. A mensagem da polícia foi simplesmente essa.
Não importava se era Eva ou qualquer outro meio de comunicação quem solicitava;
a resposta era sempre a mesma: os laudos policiais não são públicos; o quarto poder
não tem direito a ver nada de nada. Por isso, Eva estava agora em frente ao
Departamento de Medicina Legal, com o parque do Fælled bem a suas costas. O sol
de primavera tinha feito que mães de olhar cansado saíssem dos apartamentos
empurrando carrinhos de bebê; tinha também atraído pacientes do vizinho
Hospital Nacional; e havia aposentados sentados nos bancos do parque. Dois
maqueiros estavam fumando na escada de entrada do Departamento de Medicina
Legal. O que Lagerkvist tinha dito mesmo? Que só temos uma chance de
entrevistar as pessoas. E se não temos os fatos claros, se fica óbvio que a única coisa
que queremos é extrair informação sem antes nos informarmos direito, elas não
abrem o bico. E aquela chance não volta.
- Oi, moçada – disse Eva aos maqueiros. Trabalhadores em extinção, a
proximidade do Dia do Trabalho, solidariedade, isso tudo. Olharam para ela, que
sorriu. – Então, já acabou o turno? - Oi, gata – disse o mais velho. – Curtindo um solzinho?
Eva deu alguns passos adiante e começou a subir a escada em direção a eles. - Não seria melhor se você já pedisse direto? – Era outra vez o mais velho. – A
gente não precisa ter vergonha de não ter dinheiro para comprar cigarro.