Eva riu, aceitou um cigarro e o acendeu. Por um momento, ficou eufórica. O
sabor era fantástico, motivo pelo qual havia começado a fumar nos velhos tempos,
quando tinha dezesseis anos e precisava de estimulantes para aguentar a estada num
colégio preparatório de província.
- Obrigada – disse Eva.
- É bom, né? Então, que mal faz ficar como a turma que levamos no rabecão?
- Dá para notar isso neles? – perguntou Eva, e ficou pensando em como passar
do papo furado a seu verdadeiro propósito. - O quê? Se eles são fumantes?
- É.
- Está de brincadeira? É claro que dá.
- Você trabalha na autópsia?
O homem fez que não. Eva olhou para o colega dele, que respondeu: - A gente só transporta.
- Mas o serviço não deixa vocês desanimados?
- Porque vou ou não ser um defunto bonito? – disse o mais jovem, dando de
ombros.
Eva deu outra tragada, fechou os olhos e deixou que o sol a aquecesse. Não havia
nenhuma transição ideal para a conversa. Ou, pelo menos, ela não soube achar
nenhuma. Precisou apelar para uma mudança de assunto dura e pouco elegante: - Vocês se lembram do cara que estourou os miolos?
Os dois homens se entreolharam. - Faz uma semana, talvez um pouco menos – insistiu Eva.
- O do parque? – perguntou o mais velho.
- É, esse.
- Olha, não sobrou muita coisa dele, não. Foi foda.
Tinha chegado o momento em que Eva deveria infundir confiança com seus
conhecimentos – os poucos que tinha.