olhou em torno e compreendeu o motivo: estavam no santuário de Hans Jørgen, o
lugar que melhor o representava. Cartas náuticas emolduradas, talvez muito
antigas, sonhos aventurosos de dar a volta ao mundo de veleiro, belos móveis
embutidos que eram do mesmo mogno do convés.
- Que baita navio! – disse Eva, antes de se corrigir: – Barco. Eu quis dizer barco.
Ele assentiu. - Sente-se. Você toma uma cerveja?
- Tomo, sim, obrigada.
Ele abriu a geladeira, e Eva abriu a bolsa. Deixou na mesa os três saquinhos
plásticos. Hans Jørgen abriu as garrafas de costas para Eva, virou-se e olhou
primeiro para ela, depois para os saquinhos. - Pedaços de crânio – disse Eva.
Ele deixou as duas garrafas na mesa. Eva não viu nenhum sinal de surpresa em seu
rosto. - Você...?
- Topei com três meninos na mata onde Brix morreu. Estavam juntando isso
como se fossem peças de Lego. - E você tem certeza de que são?
Eva assentiu e disse: - Não precisa ser legista para confirmar.
- São quantos?
- Não sei. Nem mexi neles. Em quantos pedaços o crânio se parte quando a gente
dá um tiro na própria cabeça?
Ele deu de ombros e brincou com o rótulo da cerveja. - Não dá para dizer. Três. Dez. Uns cem, talvez. Depende de muita coisa.
- E quando é espingarda de caça?
- Dessa distância, não dá tempo para que o chumbo se disperse. Imagine que caia
uma bola de vidro, por exemplo. Às vezes, ela se parte em dois pedaços. Outras