mãos cuidadas, uma mistura de muitos perfumes. Aproximou-se da janela e olhou
para fora. Um garçom que estava tirando a mesa ao lado perguntou se Eva queria
tomar alguma coisa.
- Por enquanto – disse Eva –, quero só curtir esta vista um pouquinho.
- Mas é claro.
Diante de seus olhos, estendia-se a versão ao vivo do Google Earth. Faltava apenas
a função zoom. O céu estava completamente limpo. A lua estava muito baixa, e o
céu não conseguia se decidir entre o azul-escuro e o negro. Eva olhou para a rua,
procurando seus inimigos (se é que ainda continuavam lá), os carros que passavam
pelo Amager Boulevard. O que havia para ver não era grande coisa. Eva os tinha
superestimado. Antes isso que o contrário, disse a si mesma. Claro que não tinham
acesso àqueles recursos de vigilância. Só a polícia tinha. Foi o que ela teve tempo de
pensar antes de ver uns vidros escurecidos. Apesar da grande distância, não teve
dúvida nenhuma. Preto, ameaçador, o carro pareceu deslizar furtivamente pela
ponte de Langebro. Parecia a Eva um réptil ou a sombra de um tubarão que nadava
logo abaixo da superfície, rumando fixamente para a presa. Um instante depois,
apareceu outro vindo da direção contrária, em alta velocidade, ultrapassando os
demais veículos. Pararam em frente ao banco. Eva os viu descer dos carros. A visão
estava meio borrada, mas era nítida o bastante para saber que eram eles. Em cada
carro, eram três, três sombras. Talvez estivessem discutindo o que fazer. “O que foi
feito dela?”, deviam estar pensando. “Se vocês três forem pela Amagerbrogade,
pegamos o caminho do centro.” É, voltaram a entrar nos carros. Refizeram o trajeto
de Eva rumo a... ela?! Sabiam onde estava?! Eva olhou para o elevador. Como
poderia descer? Havia escadas também? Ou a única opção era mesmo o elevador?
“Não, calma”, pensou, e repassou mentalmente a chegada ao hotel. Os
recepcionistas? Eram parte da maquinação? Não, impossível. Alguém mais podia
tê-la visto? As câmeras?
No entanto, os carros passaram direto. Cruzaram a Ponte Langebro no sentido