- Sério, não sei do que você está falando...
- Não é nada com o caso de vocês – disse Eva, interrompendo-a. Pensou em
Lagerkvist, em sua doutrina do bom senso: as pessoas só se dispõem a falar com um
jornalista se ele já sabe de antemão todas as informações. – Também não é nada
com o clube, nem com esse seu marido que viaja duzentos dias por ano. Não é nada
com as noites que você passa sozinha em casa, sentindo falta de uma vida normal,
uma em que seu marido não esteja o tempo todo fora. – Eva viu lágrimas nos olhos
de Beatrice, e talvez por isso a tenha pegado pela mão e dado um ligeiro aperto
solidário antes de enfiar a faca até o cabo. – Toda mulher pode se apaixonar,
Beatrice, ainda mais quando a largam sozinha com filhos. Entendo perfeitamente.
E o Rico era atraente, isso não se discute.
Beatrice baixou os olhos. Eva ainda segurava a mão dela. Uma lágrima caiu no
chão da igreja, onde Eva agora ministrava um dos sacramentos, ouvindo a confissão
de uma mulher. - Olhe para mim.
Beatrice, com os olhos cheios de lágrimas, voltou o rosto para Eva. - Não pretendo destruir nada na vida de ninguém – disse Eva. – Você está
entendendo?
Beatrice assentiu. - Mas preciso saber que informação você deu ao Rico antes de ele ter sido morto.
Beatrice enxugou as lágrimas com a mão que estava livre, olhou para o teto, e um
solitário “Merda!” lhe escapou dos lábios antes que ela se refizesse. - Eu corro perigo? Podem me matar?
- Se mataram o Rico, é de imaginar que possam fazer qualquer coisa.
Beatrice pensou muito antes de dizer: - Como foi que você descobriu?
- O Rico me contou um pouquinho antes de morrer.
- Ele falou de mim?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1