Hospital Nacional, Copenhague – 12h07
Seus pertences se reduziam a uma carteira e um iPhone que estavam na gaveta do
criado-mudo. A roupa, que provavelmente pertencia a outro paciente, ele achou no
quarto ao lado. Não era muito elegante, mas lhe caía mais ou menos bem e, pelo
menos, não estava rasgada nem coberta de sangue. A dor dificultava a tarefa. Teve
problemas principalmente com as calças. Era difícil dobrar a perna esquerda; talvez
tivesse sido ali que o carro o pegou; ou teria sido em cima daquela perna que
Marcus caíra depois de ter sido jogado para o ar? Mas não tinha quebrado nada,
consolou-se; e, enquanto sentava na beira da cama e se apoiava na cabeceira, pensou
em alguma coisa boa, numa imagem da infância, no dia em que compraram seu
primeiro uniforme de escoteiro com o lenço, nos olhos do pai – quando pensava
nisso, conseguia afastar a dor e se levantar. Agora. Em pé. De volta ao corredor.
Tinha que procurar o dr. Boris Munck, onde quer que estivesse. Era a única pessoa
que podia ajudá-lo. Boris Munck.
Entrou no elevador e apertou um botão ao acaso. Mal percorreu o elevador;
desceu no andar de baixo – ou foi no de cima? Dava na mesma, porque não
importava o corredor em que saísse. O Hospital Nacional era cheio de corredores, e
isso não fazia diferença nenhuma; havia só duas coisas importantes: precisava achar
Eva e salvá-la. Mas antes tinha que achar o médico que a tinha tratado, que o levaria
a...
O maqueiro vinha em sua direção. Era um tipo parrudo, de barba cerrada.