concentrada as restantes. Pelo visto, a crise econômica internacional não tinha
chegado à Casa Real. O livro expunha um exemplo atrás do outro da relação
muitíssimo negligente da família real com o dinheiro. “A rainha é vinte e seis vezes
mais cara que o presidente da Irlanda”, dizia uma das chamadas do livro. Um
parágrafo contava que em 2011, quando compareceu ao casamento de uma
sobrinha na cidade alemã de Bad Berleburg, a rainha Margarida chegou rodeada de
muita pompa, e só a viagem de helicóptero custou quatrocentas e sessenta mil
coroas aos contribuintes dinamarqueses. Em outro parágrafo, a autoria dizia que “a
rainha gosta de visitar o Museu de Skagen para admirar os quadros de P. S. Krøyer e
tem o costume de se deixar transportar de helicóptero também para lá. Isso quer
dizer que só a ida e volta do museu se eleva a mais de trezentas mil coroas”.
E assim sucessivamente, uma página atrás da outra, capítulo após capítulo, sempre
a mesma história de uma família esbanjadora que permitia de bom grado que a nata
do mundo empresarial dinamarquês pagasse para ser convidada ao círculo mais
íntimo da realeza, às festas elegantes em Amalienborg, aos bons vinhos, à comida
cara, pelo reconhecimento prestigioso para a identidade e o valor acionário das
empresas, e pela atenção recebida da mídia ao estar em companhia do príncipe
herdeiro e da esposa, sorrindo para a revista Billed-Bladet, quando se abriam as
portas para os jantares palacianos de gala. A palavra “corrupção” não aparecia em
parte nenhuma do livro – talvez a autora temesse processos –, mas estava nas
entrelinhas, como uma sombra. Lagerkvist tinha insinuado o mesmo. Ele não tinha
tido medo de pronunciar a palavra, e Eva, quando largou enfim o livro, achou
difícil não dar razão ao veterano jornalista. Do que mais chamar a circunstância de
os ricos pagarem grandes somas às pessoas mais poderosas do país para assim
obterem mais influência?
O livro, contudo, não tratava apenas de finanças. Havia também capítulos
dedicados a assuntos judiciais. Ao fato de que os membros da Casa Real estão acima
da lei e da ordem e não podem ser indiciados. De que, na prática, podem fazer o que
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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