lhes dê na telha – e fazem. Reuniam-se incontáveis exemplos quer de abuso de
poder, quer da imagem idealizada que a Casa Real gostava de construir em torno de
si. Entre outros casos ilustrativos, o livro contava que, em várias ocasiões, o príncipe
herdeiro e a mulher tinham enfatizado que não deixariam os filhos aos cuidados de
terceiros. Não, eles mesmos se encarregariam da educação diária das crianças;
queriam ser uma família moderna que se virava sozinha. Mas então, perguntava o
livro, como se explicavam as vinte e seis pessoas empregadas para cuidar da
residência do casal? Entre elas, uma tropa de babás.
Eva tornou a olhar para a foto da autora. “Tine Pihl frequentou durante anos os
círculos mais íntimos da Casa Real”, dizia o texto. “Algumas de suas fontes
preferem permanecer anônimas, mas a autora falou pessoalmente com todas elas.”
Eva se levantou, com o corpo adormecido por ter ficado sentada tanto tempo. Uma
mulher estava prestes a ir embora; de resto, a biblioteca estava deserta. “Tine
frequentou no dia a dia os círculos mais íntimos”, pensou Eva. “Então, talvez tenha
conversado com Brix.”
Antes de sair da biblioteca, Eva lançou um olhar às duas pilhas de livros. Uma
delas nos assegurava que, qualquer que fosse o brutal capítulo que consultássemos
da história da Dinamarca, sempre encontraríamos um rei ou rainha responsável por
aquilo. Tratava-se de assassinos vis, nem um pouquinho melhores que os ditadores
da atualidade; eram pessoas gananciosas e sedentas de poder que tinham um único
objetivo – acumular bens. E havia a outra pilha, com um relato mais ameno, sobre
reis populares e pançudos que amavam seu povo. Por alguma estranha razão, não
havia livros que cobrissem o espectro intermediário. O lado ruim e o lado bom.
Que escolhêssemos nós mesmos qual preferíamos.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1