cadeiras, a acústica matava a inteligibilidade.
Marcus se afastou do hospital a passos lentos. Quando uma ambulância chegou
com a sirene tocando, ele enfim se deu conta de que estava acontecendo algo em
seus ouvidos. Marcus continuava escutando a gravação, ela continuava
reverberando em sua cabeça. Atentou às palavras, revirando-as, procurando alguma
coisa. “Marido violento.” Era o que o médico tinha dito. Mas por quê? Por que o
médico desconfiava que Marcus fosse o marido violento? Será que Eva Katz tinha
marido? Não, tinha tido só noivo, que já havia morrido; de resto, ela não tinha
ninguém. Mas, então, por que aquilo? Porque tinha sido a primeira coisa que
ocorreu a Munck? Teria sido por algo que Eva disse ao médico? Marcus já tinha
chegado à rua. O tráfego soava normal em seus ouvidos; a audição tinha voltado. E
ele pensou: “Para que contar uma mentira dessas? O que ela...?”
Não, precisava partir de outro ponto. Colocar-se na situação de Eva, tentar
entender como ela pensava. “OK.” Eva tinha necessidade de quê? Qual era o
objetivo dela? Esconder-se? Sim, entre outras coisas. De fato, era o mais importante
para Eva naquele momento. Esconder-se em algum lugar onde pudesse ficar
sossegada. Os pensamentos lhe ocorriam em cascata:
Coitada.
Fugindo.
De quem?
Maridos.
Violentos.
Mulheres. Homens. Fugindo.
Abrigo.
Abrigo de mulheres.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1