isso. No instante em que publicaram o livro, passei a ser malquista. Fiquei em bad
standing. O conceito que as pessoas faziam de mim foi a zero, e ninguém queria
ouvir a verdade.
- Bad standing – disse Eva.
- Veja nossa querida rainha, por exemplo. Quantos dinamarqueses sabem que é
uma dependente, uma viciada em remédio? Quem escreve sobre isso? Ninguém.
Quem é que diz a verdade nua e crua, ou seja, que todo santo dia entopem a rainha
de tranquilizantes e de remédios para o reumatismo? É um coquetel que acaba
atordoando tanto quanto o ópio purinho. - Eu não sabia – disse Eva.
- Não, claro que não! Porque ninguém noticia; porque ninguém aguenta pensar
na realidade que estamos vivendo. - E que realidade é essa?
- Que temos uma soberana que, durante a maior parte do tempo, está tão dopada
que não consegue reagir nem raciocinar direito. Nisso, parece o pai, que volta e
meia estava bêbado, ou Cristiano VII, que era louco de pedra. E quem raciocina
então? Quem decide quais chefes de Estado convidar para um jantar de gala, quais
empresários incluir na comitiva real para a viagem à China? Se não é a rainha, vai
ser alguém da corte. Altos funcionários. Gente que não conhecemos. Gente que
não foi eleita nem é da realeza. O pessoal que realmente administra aquele troço. O
poder dentro do poder. E quem noticia isso? Ninguém nos conta nada. Não sai
nem a mínima insinuação de que talvez fosse boa ideia uma licença médica para a
rainha. E por que isso? Porque ninguém tem coragem de dizer a verdade. Eu já
tentei, muitas vezes; mas parece que ninguém quer ouvir. Não, preferem escutar a
princesa consorte. Sabe o que ela falou de mim? - Não.
- Várias vezes, disse que ficou decepcionada comigo. – Tine tornou a dar aquela
risada rouca e insana. – Pense só: uma garota sem sal, totalmente desconhecida, lá